Escrevo este manifesto para demonstrar que se podem realizar acções opostas, ao mesmo tempo, num único e fresco movimento. Sou contra a acção; e em relação à contradição conceptual, e à sua afirmação também, não sou contra nem a favor.


Pedro Marques @ 21:47

Ter, 04/08/09

"The UK was really fun. I thought the Shepard's Bush Empire show in London was one of the most fun shows we've played from any tour we've ever done. Amazing audience that night!"

 

Dweezil Zappa no seu blog.




Pedro Marques @ 02:16

Ter, 16/06/09

Fim de semana absolutamente magnífico em Londres. Há cerca de sete anos que não ia lá. Tantas saudades... Leicester Square, o caminho até Montpellier Hall, as lágrimas ao canto do olho, ai ai.

Objectivo: concerto de Zappa Plays Zappa no The Empire Shepherds Bush no domingo dia 14. Mas, já lá vou.

Primeiro. No sábado de manhã, andei desde Finsbury Park até Leicester Square. Distância considerável que realizei sem precisar de mapa. Ainda me lembrava de alguma coisa de Londres... Depois de comer qualquer coisa por ali, girar pela Trafalgar Square, entrar no National Museum para ver o Bacon e o Matisse que lá estão (à pala), deitei-me na erva de Leicester Square a ouvir bandas de gospel das igrejas do West End que comemoravam um evento chamado Spirit of the City. Belos coros católicos ou protestantes, ou sei lá o quê, com uma maestra em puro êxtase. As músicas bem cantadas e tocadas tinham, contudo, nomes um bocado monótonos (para ser simpático): "God is Truth", "Praise the Lord", God Almighty", "Aleluia", etc. Adormeci ali, em puro deleite dos sentidos.

O meu casalinho de acompanhantes chegou por fim, extenuado. Comemos uma porcaria qualquer que se assemelhava a uma pizza e vagueámos até Victoria para confirmar os comboios e autocarros da viagem de regresso a Luton. Que seria atribulada, como adiante perceberão. Por entre as ruas, ao longo do rio, falámos de relações, mulheres e homens e as suas neuroses. Eu espantei alguns fantasmas, mas apenas por uns instantes. A viagem para casa foi pontuada por uma chamuça num quiosque da esquina em Finsbury Park. E o dia terminava no meu pequeno quarto em casa da Isabel, uma amiga muito simpática que aceitou receber-me em sua casa.

Domingo: directo à Tate. Sorte das sortes: uma exposição sobre futurismo. Tema de trabalhos que realizei e ainda irei trabalhar mais. Cidades com museus têm destas surpresas... comer no jardim a ouvir um trio de jazz tipo Django Reinhardt: contrabaixo, guitarra e acordeão, umas embalagens a 2 libras e 99 que pudemos encher com as mais variadas frutas e legumes e massas. Delicioso. Bom demais para ser verdade. Alguém do nosso grupo iria desperdiçar isto. Mas calma...

Entrar no British Museum e passar o tempo todo a lembrar uns aos outros que "isto foi tudo roubado". Acrópoles inteiras, túmulos assírios, cerâmica etrusca, estátuas gregas e romanas. Tudo em Inglaterra, em exposição, é certo, bem cuidado, é certo. Mas a magnitude da pilhagem é tão grande que chega a ser embaraçoso.

Andámos até Holborn, apanhámos o metro, saímos em Shepherds Bush. A hora do concerto aproximava-se. O Roro e a Raca esparramaram-se no jardim a jiboiar e eu fui jogar à bola com um tipo vesgo meio maluco. Deu para suar. Cerveja a seguir, bafo minúsculo num charro de erva que ardia por ali e ala para a fila de acesso ao Bush Imperio que começava a engrossar.

45 minutos de espera a dizer disparates e a prometer muita dança lá dentro. Afinal we're dancin' fools! Começávamos a preocupar-nos porque havia duas filas. Uma para lugares de pé, outra para sentados. Não conhecíamos a sala, e se ficássemos de pé a dez metros do palco? Não podia ser. Mas assim que entrámos o Roro desfez a angústia quando gritou "Amazing". Era uma sala de espectáculos maravilhosa com terreiro em frente ao palco e três balcões que foram enchendo à medida que as 8 da noite se aproximavam. Conversa com os fanáticos que iam parando atrás de nós. Meti conversa com o Jailes, um tipo do Botswana casado com uma sevilhana que era um grande bacano e a quem esqueci de pedir o contacto no final, para minha grande tristeza (fica a fotografia dele), o Daniel dos Zappateers e alguns outros a quem passei o contacto do blog mas que não irão perceber nada do que eu escrever aqui sobre eles. Para esses que me podem estar a ler sem perceber, só uma coisa: It is Fucking Great to Be Alive!

E chega o concerto propriamente dito que abre com "Apostrophe (')", segue-se "Montana", "Village of the Sun", "Echidna's Arf (of you)", "Cosmik Debris", "Inca Roads", e depois, não necessariamente por esta ordem: "More Trouble Every Day", "The Black Page #1", "The Black Page #2", "Wind Up Workin' In a Gas Station", "Caroline Hardocre Ecstasy", "Peaches in Regalia", "Outside Now" que levou o Rodas ao rubro e o Dweezil também e "Bamboozled By Love". O encore foi "Don't Eat the Yellow Snow", "Zomby Woof" que me partiu todo e... depois, o Dweezil, visto que nós, eu, o rodrigo, o Daniel e uma tipa que se juntou tínhamos estado a cantar tudo e dançar como se não houvesse amanhã (isto é, hoje), chamou-nos para o palco (ver  vídeos 3 e 4). Foi o êxtase, não podem acreditar na nossa alegria. Nós que tínhamos ido expressamente de Portugal para aquilo, era bem mais do que podíamos esperar. O Dweez. apresentou-nos, um miúdo de 12 anos subiu também e acabou por ser o mais sortudo porque a determinada altura o Dweez passou-lhe a Gibson SG que toda a gente gostaria de tocar e deixou-o ali, a malhar sem mais nada. Nós dançávamos atrás, espalhados pelo palco, ao som de "Willie The Pimp" a gritar "Hot Rats", "Hot Zits" e coisas do género. A felicidade era imensa. Os músicos uns grande bacanos, especialmente o baterista Joe Travers que é, nada mais nada menos que um dos responsáveis pela Cave dos Tesouros que são as gravações do Zappa. A Gail chama-lhe Vaultmaster. O Pete Griffin baixista também era um bacano, e a Scheila  Gonzalez ainda era mais bonita ao vivo do que ao longe. Cumprimentámos todos e saímos aos pulos. Era o fim do concerto. A apoteose. Na confusão da excitação perdi o Jailes do Botswana, a Raca ficou sem memória no telemóvel, por isso as fotos são de má qualidade. Mas a memória, essa, é de muito boa qualidade. Será o concerto das nossas vidas? Pelo meio ainda tive a oportunidade de gritar "You have to go to Portugal!" ao que o Dweezil respondeu afirmativamente perante 3000 pessoas. Portanto, pessoal, preparem-se.

A noite, contudo, ainda não tinha acabado. O almoço da Raca decidiu que o estômago dela não era um bom sítio para se estar, principalmente com todos aqueles saltos, e decidiu vomitar-se, finalizando a nossa noite em grande caos, preocupados com metros, autocarros, comboios, táxis, aviões e horários.

Escrevo, neste momento, sem ainda ter dormido. Deve ser por toda a excitação que ainda não o fiz. Faltava deitar cá para fora toda a confusão de sentimentos do fim-de-semana atribulado. Quanto ao FZ e ao DZ, obrigado pela boa música e por continuarem e tornar-nos todos os dias um bocadinho mais loucos e por isso profundamente sensibilizados por tudo o que é da natureza humana.

 

Adenda: começam a aparecer os primeiros vídeos do concerto, aqui fica a parte final de "Zomby Woof" e "Black Page #2" com a special guest (ver vídeo) Diva Zappa (a filha mais nova do clã). Memorável! (Cliquem para ver melhor.)

Jailes from Botswana! If you are reading this, please get in contact via blog. See ya!

 




Pedro Marques @ 00:22

Qui, 12/02/09



Zappa plays Zappa (a banda de Dweezil Zappa dedicada à música do pai) ganhou um grammy de melhor música instrumental pela composição de Frank Zappa, Peaches in Regalia, do disco Hot Rats de 1969. A propósito deste comentário aqui, a notícia aqui.




Pedro Marques @ 02:50

Ter, 12/08/08



Férias curtas mas intensas. Mar e montanha. Cachalotes e vacas. Um dos sítios mais belos que conheço. Naveguei e voei. E andei à boleia! Caminhei e nadei. Deixei coisas para ver e conhecer mais tarde.
Tempo para pensar e não pensar. Tempo para parar e tempo para andar avante.
Comecei na ilha Terceira, em Vila Praia da Vitória. Uma pacata vilazita a leste. Com um porto suficientemente grande para albergar os navios que cruzam o oceano para a Ilha do Pico, S. Jorge e Horta. As festas nocturnas da vila consistem num grande festival gastronómico onde se pode comer e beber bem, ver concertos à noite (vi um bocado dos Da Weasel, na Horta no dia 8), jogar à bola na areia preta da praia, comer gelados e caminhar pelo paredão. Ou seja, nada de diferente de qualquer vila pacata portuguesa do continente. Só que aqui estamos a falar dos açorianos, que são um povo simpático.
(A partir de agora quem me disser que foi para o Algarve em vez de ir para os Açores passar férias, leva um sermão de meia-noite.)
Segui de barco até à Ilha do Pico. Majestosa como pensei que seria. As nuvens à volta. Imaginei-a coberta de neve. Cada vez mais exígua (de ano para ano), segundo me disseram. Desembarquei em S. Roque, destino de uma das histórias mais agradáveis da viagem... mas isso fica para mais tarde.
Almoçámos em S. Roque, debaixo de uma torrente de calor, caminhámos uns quilómetros para o restaurante Águas Cristalinas indicado pela própria cozinheira que estava de folga e a quem por coincidência perguntámos onde havia um sítio para comer, que apareceu ao fundo de um rua ladeada de vinhas (o vinho do Pico é famoso, dizem os que apreciam) e muros compostos por pedras vulcânicas. Foi como um oásis.
Esperámos pela camioneta, uma das duas diárias para Madalena. Que é um sítio lindíssimo. Águas mesmo cristalinas. Com o Faial ao fundo. A esta hora o sol batia de chapa na água, via-se o fundo de rochas vulcânicas amaciadas nitidamente, como uma piscina.
No Faial, os miúdos mergulham do cais para a água, onde há um campo de pólo aquático, um monte com um canavial, atrás da rua principal, e uma sensação de descontracção difícil de descrever.
A seguir programámos uma viagem para ver cachalotes no dia seguinte. Cachalotes!
A residencial era das mais baratas, o quarto estava cheio de moquitos, mas estávamos na Horta e íamos ver golfinhos e baleias.
No dia seguinte, excitação total, primeiro a espera, "ainda não foram avistadas baleias", e depois a boa notícia, cachalotes à vista, ala para o centro do triângulo. (Os cachalotes não vão para águas menos profundas que 300m. Porque será? Dificuldades de locomoção?) Barco a toda a velocidade, durante 30 ou 45m, até ficarmos mais ou menos à mesma distância de S. Jorge, Faial e Pico. Dizem que os cachalotes moram lá todo o ano.
Eu também não me importava. Mas isso é outro assunto.



Mesmo antes de ir de férias descobri a última pérola zappiana: a banda de Dweezil Zappa, filho de Frank Zappa, a tocar as músicas do pai, com uma banda de músicos novos onde pontifica Napoleon Murphy Brock, cantor da banda mais celebrada de Frank Zappa (73-75).
Deixo-vos uns youtubes de férias: "Camarillo Brillo", numa excelente versão, e com muito prazer, uma das canções mais lindas de Frank Zappa - "Call Any Vegetable" -, a orquestração e o desempenho dos músicos são brilhantes, a composição de Zappa: mistura de teatro musicado com pequenos bocados de rock pesado, ritmos assimétricos, é electrizante (o som do vídeo é muito bom, dá para pôr alto! (nos phones)) God Bless America!. E ainda "Tell me You Love Me".
"Questions, Questions, Questions, flooding into the mind of the concerned young person today.
Ah, but it's a great time to be alive, ladies and gentlemen.
And that's the theme of our program for tonight.
It's so FUCKING GREAT to be alive!
Is what the theme of our show is tonight, boys and girls.
And I wanna tell ya, if there is anybody here who doesn't believe that it is FUCKING GREAT to be alive, I wish they would go now, because this show will bring them down so much..."
Frank Zappa, "Call Any Vegetable".