Escrevo este manifesto para demonstrar que se podem realizar acções opostas, ao mesmo tempo, num único e fresco movimento. Sou contra a acção; e em relação à contradição conceptual, e à sua afirmação também, não sou contra nem a favor.


Pedro Marques @ 22:41

Ter, 05/06/12

Hoje/quase ontem faz um ano que o governo PSD/CDS ganhou as eleições e formou governo. Querem mais disto? Eu não. Estou farto do Passos Coelho. Já nem o consigo ouvir. Quando ele começa a falar na televisão naquele tom professoral, vagaroso e paternalista a dizer que vivemos muitos anos acima das nossas possibilidades começo a ter vómitos e não aguento. É demais. Quando o Ministro das Finanças, aquele Vítor Gaspar, que eu nunca tinha visto mais gordo, começa a falar ainda mais devagar que o primeiro-ministro a dizer que vivemos muitos anos acima das nossas possibilidades, tenho vómitos e começo a ficar com urticária. Não quero mais disto. Aliás, acho que está na hora de começarmos a pensar em fazer a revolução. Sim, ouviram bem. A revolução. Derrubar o governo pela força. Empurrá-lo. Cagar na troika, sair do Euro e da Europa, bastar-nos a nós próprios, com aquilo que sabemos fazer.

Estou farto de vigaristas, corruptos e políticos que nos dizem que vivemos acima das nossas possibilidades. Para que conste: EU NÃO VIVO ACIMA DAS MINHAS POSSIBILIDADES MEUS CABRÕES, NÃO VIVO NEM NUNCA VIVI. VOCÊS É QUE VIVERAM A COMPRAR OS VOSSOS CARROS TOPO DE GAMA E FORAM PARA AS VOSSAS FÉRIAS NAS ILHAS CAIMÃO E EM CUBA E NO CARALHO QUE VOS FODA! Por isso, desapareçam do governo do meu país, que eu me habituei a amar, apesar de tudo o que vocês lhe têm feito! Despareçam! Vão-se embora, ninguém vos quer meus corruptos, vendidos e todos os outros que participaram nos governos desde o início dos anos 90 e que ESSES SIM, viveram acima das suas possibilidades e endividaram o nosso país, com políticas suicidas. São eles os verdadeiros traidores da pátria e são eles os responsáveis pelo estado a que chegámos.

VÃO-SE EMBORA!




Pedro Marques @ 10:57

Seg, 02/01/12

Primeiro post do ano: e o primeiro para dizer que este ano vai ser melhor do que pensamos. Para sair fora desta terrível e estúpida tendência que diz que o ano 2012 vai ser pior que 2011. Ainda estamos a dia 2 de Janeiro e já estou farto de ouvir toda a gente, desde as pessoas na rua aos manequins na televisão, passando pelos anónimos ao telefone e no eco das nossas consciências de que o ano vai ser mau, horrível, vamos ficar sem isto e sem aquilo, os impostos vão subir, o desemprego vai subir, o primeiro-ministro quer que a gente emigre para mandar dinheirinho para cá, os canadianos perceberam isso e expulsam-nos, o dólar e a libra continuam a sua guerra surda à Europa, a Europa assiste enquanto os seus amigos anglo-saxónicos assobiam para o lado como se não soubessem de nada. Ao mesmo tempo os chineses compram a Europa a retalho, a preços baixos, os mesmos preços baixos que fizeram a mão de obra ocidental deslocar-se para o Extremo Oriente, os brasileiros preparam-se para os jogos olímipicos e o mundial de futebol para finlamente fazerem parte do mundo desenvolvido. O mundo está em profunda mudança. Que melhor notícia podíamos ter?

Está a terminar o mundo do desperdício, o mundo que via a economia como consumo, esse mundo ainda se agita, na esperança de que as coisas possam voltar atrás, mas não, o mundo já é outro, em 2012 iremos assistir à queda de todas as crenças obsoletas: desde a ganância pelo novo gadget ao fanatismo pelo benfica ou por fátima, desde a irresponsabilidade da poluição e destruição do ambiente à reinvindicação de um local de trabalho estável, duradouro e perene.
O mundo já não está para essas coisas, o mundo está em mudança, e que bem que está, em Portugal está em mudança para pior, no que diz respeito ao dinheiro que iremos ter nas nossas contas bancárias, mas o que é que isso interessa para a nossa felicidade? É claro que precisamos de dinheiro para viver, etc... bla bla, mas precisamos de estar endividados por causa das férias a Cancun em 2005 que ainda estamos a pagar, precisamos realmente de mudar de carro todos os anos para sermos felizes? Precisamos realmente de fazer obras numa casa acabada de construir? Precisamos realmente de gastar dinheiro em coisas inúteis? Porque não mudarmos as nossas prioridades para os livros, a música, o cinema (europeu e português), o teatro, a dança? Porque não, para quê continuar a insistir?
Nós temos um país periférico, virado para o oceano, o que é muito melhor que viver no meio da Europa, cheia de neve e influência germânica. Nós somos um país privilegiado porque temos o oceano como companhia e possibilidade. Para o resto da Europa somos periféricos, mas também somos a entrada da Europa. Se ao menos tivessemos a visão estratégica para perceber isso, se ao menos tivessemos políticos que quisessem ver isso e não apenas o dinheiro que gastamos a mais, se ao menos os nossos partidos não vivessem apenas para ganhar votos e se venderem à primeira oportunidade... If only...
Por tudo isto e mais ainda, estou otimista, 2012 será o ano em que iremos deixar de gastar aquilo que não podemos, deixaremos de consumir demais e começaremos então a ser parcimoniosos no gozo que temos pela vida... é este o meu desejo para o ano...




Pedro Marques @ 19:28

Qua, 23/03/11

1. Se calhar, daqui a duas horas este post já estará desactualizado, por causa dos desenvolvimentos entre governo e presidente da república, mas não posso deixar de pensar no que pode vir aí. Se o governo cair preparamo-nos para mais uns anos de PSD-CDS ou de uma coligação ainda maior de PSD-CDS-PS?

Sócrates vai-se candidatar outra vez. E se ganhar? O que é que vai acontecer aos outros partidos depois?

Espera lá, mas o governo não ganhou as eleições há dois anos? E por que é que o governo vai cair?

Porque não tem maioria?

Mas espera lá, estes tipos estão todos a gozar connosco?

Mas pensam que o Passos Coelho vai ser melhor que o Sócrates? Preferem a arrogância ou a incompetência? Acham que o Passos Coelho e a trupe do PSD são melhores que o Sócrates e os boys do PS? Deixem-me rir. E o CDS? Com aquela demagogia toda os gajos até nos confundem, até parece que o Portas pode ser competente, não é?, com aquele sorriso todo, aquela pausa no falar, quase que somos levados a pensar que se calhar, lá no fundo, o Portas até é bem intencionado, só que depois lembro-me dos submarinos e das negociatas, lembro-me dele a falar dos agricultores, dos pescadores e a minha cabeça fica confusa.

À esquerda temos o PCP e o BE, completamente ultrapassados pela questão, o poder não passará por eles, e eles também, verdade seja dita, passam ao lado do poder. Se os partidos de esquerda tivessem os tomates para dizer sim ao PEC4, o PSD e o CDS não cantavam de galo. Mas como podem eles dizer isso, se também estão contra o governo? Claro, é óbvio. Mas, e se eles achassem, como já acharam na primeira eleição de Soares contra Freitas do Amaral, que o PS e Sócrates constituem o mal menor quando comparados com o PSD. É claro que eles nunca mostraram que podiam fazê-lo, negociando com o governo, constituindo uma alternativa, de facto, e não marcar a posição de orgulhosamente sós que começa a ser parecida com a de uma personagem que não me apetece citar.

Temos, portanto, aquilo que merecemos. Não temos nenhum partido credível que perceba de facto a caldeirada em que estamos metidos. Quisemos o primeiro mundo, certo, mas não temos estofo para ele, nem a nível político, nem económico, nem social.

A única área em que somos iguais aos outros é na excelência da nossa cultura, património e herança colectivas.

 

2. No outro dia falava com um amigo e ele dizia-me que era preciso os miúdos perceberem para onde estava a ir o mundo para escolherem a profissão. Certo. Sim, pensamento correto. Mas, alguém sabe para onde ele vai? Acho que não.

Por isso, o melhor é dizer aos miúdos: pesquisem. Podem ser tudo, de varredor de ruas a engenheiro informático, de cientista a soldado, a liberdade conquista-se...




Pedro Marques @ 14:14

Qui, 10/03/11

1. Estou feliz com a vitória dos Homens da Luta no Festival da Canção. Não que a música seja alguma coisa de interessante ou eles saibam cantar (ainda bem que não sabem), não que o próprio festival tenha alguma credibilidade, apenas porque é a vitória da utopia, do progressismo contra o habitual cinzentismo. É a vitória da arte e da ironia contra o quotidiano banal e desinteressante, uma vitória contra as opiniões de especialistas que fazem sempre os mesmos erros, cíclica e ininterruptamente. Os Homens da Luta valem cada centímetro do seu empenho por uma sociedade mais participativa, menos alheada e conformista. Precisamos de mais gente assim, que dê o peito às balas sem medos, sem preconceitos.

Num destes dias o escritor-comentador-fazedor de opiniões Miguel Sousa Tavares acusou-os de serem demagógicos com um discurso que tem quarenta anos e para o qual ele "já deu". É muito triste quando uma pessoa inteligente como o MST não consegue perceber as personas que estes humoristas representam nem ver o brilho do anacronismo que demonstram. Há anos insurgi-me aqui contra as pessoas (ignorantes) que acusavam MST de plágio no seu livro Equador, lembram-se? Agora digo o mesmo destes comentadores que subitamente despem a sua capa iluminada para vestirem mais depressa ainda a roupa de protectores de um sistema que está falido de argumentos, eles sim, caducos e obsoletos.

O mesmo tipo de argumentos que o leva a defender a opinião de que os Deolindos (foi este o feio nome que MST chamou a uns artistas colegas dele) são apenas uma demagogia, sem se conseguir distanciar da política e ver aquilo que aquela música realmente é: Arte, com "A" grande. Comprometida com o seu tempo, reflectindo o seu tempo, sendo voz de uma geração, sim, mas também de um povo que está sempre a adiar. Acho que MST devia ouvir a canção outra vez. Não para conhecer a letra, mas sim para ouvir OUTRA VEZ a música. MST demonstrou o mesmo tipo de tacanhez que teve de combater quando rebentou a polémica do seu "suposto" plágio e isso prova da sua indecorosa superficialidade ao abordar a questão no jornal da TVI. 

 

2. Estou feliz com as revoluções nos países árabes. Os nossos naturais irmãos do Mar Mediterrâneo. Os países do Norte de África são a continuação natural da Europa. Durante séculos, esse mar foi o centro do mundo ocidental, de civilizações imperiais como a egípcia, a grega ou a romana que tinham como base esse mar onde se comerciava e onde tudo acabava. Depois da expansão a Leste, será agora o mundo islâmico a implodir, ou pelo menos a relação promíscua entre ditadores, líderes religiosos e magnates do petróleo. Perigosos todos eles porque têm duas coisas fundamentais que tornam as pessoas perigosas: armas e dinheiro para comprar armas.

Temos de dar as boas-vindas aos novos países democráticos que vão sair destas revoluções pacíficas e que, como nós, têm justas aspirações a regimes mais liberais, ou mais "ocidentalizados". Agrada-me pensar que ele estão agora a viver o seu 25 de Abril, a sua revolução pacífica, neste caso, onde o Estado se separa da Religião, uma revolução que, espero, não seja como a nossa e não traga de volta os mesmos barões que nos infestaram nos anos 90 e nos conduziram a este estado calamitoso.

 

3. No próximo sábado, não basta ir para a luta dizer que precisamos acabar com a precariedade, é preciso forjar uma nova maneira de olhar para os problemas. Não basta dizer que os salários são baixos, não basta dizer que não temos produtividade, não basta apontar os problemas, é preciso mostrar como podemos resolvê-los. Para isso são precisas ideias. O meu cartaz vai dizer: "JUROS DA DÍVIDA PÓ CARALHO!"




Pedro Marques @ 18:39

Sex, 28/01/11

Estou há cerca de três meses a dar aulas de inglês nas actividades extra-curriculares dos alunos do primeiro ciclo. Tenho duas turmas do quarto e uma do terceiro. Para além da alegria de poder voltar à "minha" escola, já que a inaugurei nos anos 70, em 76, creio, fiquei espantado a olhar para o recreio que tinha aumentado, para as salas de aula todas com computadores, claro, o ginásio transformado em meio refeitório com um ecrã de televisão gigantesco, permanentemente ligado. Um campo de futebol com balizas e redes (!), coisa quase inaudita na zona, tabelas de basquete, etc. Os melhoramentos são incríveis. Na minha sala de aula fizeram uma biblioteca que, espanto dos espantos, está fechada quase sempre.

Já tive oportunidade de entrar na biblioteca uma vez, para uma reunião de professores. Fiquei pasmado quando soube que a biblioteca não está aberta porque não há ninguém para tomar conta dela. Não há nenhum funcionário para manter um equipamento da importância de uma biblioteca a funcionar numa escola primária? O quê? Quando soube que os professores de música não tinham uma sala para manter os seus instrumentos ligados, montados, enfim, para haver uma sala de música, como é do mais elementar bom senso, perguntei porque não se utilizava a biblioteca que estava fechada permanentemente. A directora da escola disse-me para eu escrever uma carta ao director do agrupamento a solicitar o uso da sala para esse fim. Eu assim o fiz, no dia a seguir. (E voluntarizei-me logo para ir de manhã manter a biblioteca aberta para os alunos que não quiserem andar a correr e a jogar à bola no recreio, na mesma carta.) Mas a pergunta mantém-se. É preciso escrever uma carta ao director do agrupamento a solicitar a abertura de uma biblioteca para poder dar aulas?

Ainda não recebi a resposta mas já imagino qual vai ser.




Pedro Marques @ 00:56

Dom, 28/11/10

1.

O que é que fazemos aqui no mundo?

Pergunta grande, claro, mas a resposta não precisa de ser tão magnânima. A resposta pode ser prosaica, do dia a dia. Pode ser o olhar ávido de uma criança, essa resposta. Pode ser um aninhar-se debaixo dos cobertores a olhar para a televisão das duas da manhã. Para nós, está-nos reservado o enigma do saber. Podemos sentir a resposta, numa chávena de café num dia de frio, num passeio a dois pela costa, mas não a podemos dizer, porque assim que se diz, ela desaparece.

 

2.

A Coreia do Norte e a Coreia do Sul abriram outra vez a porta das hostilidades. Exercícios, tiros no mar, tiros numa ilha, mais quatro mortos. Em Portugal a Cimeira da NATO (novas estretégias... uuuuuu, que medo), na Ásia tudo à estalada, outra vez. Previsível. Felizmente que a China é ali ao lado. E a Rússia também. Aquilo não dura muito.

 

3.

Em Portugal, o Presidente da República e Candidato a Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, prepara-se para ser mais uma vez eleito. Será? Para mim o digo, se ele for eleito, esse facto constituirá mais um sinal do atraso do país. O actual Presidente já deu provas mais que suficientes de que é realmente um político, um verdadeiro político (escusa de fingir mais), um dos políticos mais astutos do país. Um homem que passa por entre as balas, com um discurso completamente inócuo e, ultimamente, com uma narrativa de esquerda que apregoa a tudo aquilo que ele nunca fez como primeiro-ministro. O senhor, devo dizer, com todo o respeito, é muito hábil, mas é uma lástima. Não está à altura do país que (sub)dirige.

 

4.

O mundo está na encruzilhada do capitalismo. Em plena encruzilhada. Exactamente no momento em que tudo começa a ruir. É um facto previsível. Toda esta corrida para lado nenhum, todos estes entusiasmos na direcção do consumo desenfreado só podem levar à catástrofe. Poderemos não a ver no nosso período de vida, mas é quase inevitável. O capitalismo começará a comer-se por dentro, quando o desemprego, que será crescente, devido às inovações tecnológicas, afectar as próprias pessoas que sustentam a economia. Quando deixarem de trabalhar em massa, não haverá nenhum sistema de segurança social que os poderá proteger. Eles serão demasiado pequenos. Se as pessoas deixarem de trabalhar, o dinheiro deixará de circular. Não haverá dinheiro na economia porque ninguém trabalha. Por seu lado, as grandes empresas, na ganância do lucro, despedirão cada vez mais empregados substituindo-os por máquinas. São duas tendências que inevitavelmente irão colidir.

Só que, depois, daqui a umas centenas de anos, chegará o dia em que as máquinas farão tudo por nós e nós não teremos de trabalhar para ninguém. Trabalharemos para NÓS. Trabalharemos sempre com um sentido colectivo. No dia em que as nossas necessidades básicas forem todas satisfeitas (energia, água, comida, casa) sem a necessidade do uso de dinheiro, nesse dia poderemos começar a disfrutar e a viver.




Pedro Marques @ 18:13

Qui, 27/05/10

Notícia de roda pé na televisão: "Criança de 2 anos fuma cerca de 40 cigarros diários. Na Indonésia."




Pedro Marques @ 14:29

Sab, 20/02/10

Entrevista na televisão com Peter Gabriel, fiquei a ver, interessado, claro, é sobre o seu novo disco. Ele fala das suas influências e nas legendas aparece Steve Rois, Alvaro Pet e Stravinsky. E fico a pensar, Steve Rois? Será Steve Reich? Alvaro Pet? Será Arvo Part?

Mais tarde disse uma coisa que só se consegue dizer depois de muitos anos a fazer e a pensar música "dar toda a liberdade a um músico é castrá-lo."

 




Pedro Marques @ 01:25

Ter, 22/12/09

Este post devia ficar em branco. Mas não me apetece. Quero apenas que o título seja em branco para que ninguém saiba do que vou falar. Já que, hoje, especialmente hoje, me sinto especialmente sensível. Não sei porque será, não sei se será porque a data me faz lembrar qualquer coisa boa ou má. Não sei o que sinto, será da minha pele?

A minha pele está cada dia mais odorosa. Diz a Pfeiffer no último filme do Frears, que os perfumes permanecem mais tempo na pele quando envelhecemos. Deve ser por isso. Deve ser a camada de cheiros estranhos e esquisitos que fui adquirindo ao longo da vida que começa a revelar-se. Muitos desses cheiros não são bons, não pensem. Não escrevo aqui para me vangloriar deles, mas acho que só hoje percebi como esses cheiros podem determinar o futuro de uma pessoa. E de como esses cheiros são determinantes na nossa vida. Dizem que os cheiros despoletam as mais antigas das memórias. Será por isso que cada vez confio mais neles? Será por isso que às vezes me vejo como um insuportável fedorento?

Este fedor talvez me faça lembrar então a razão porque escrevo este post. É que esta data me faz lembrar como fede a memória que tenho deste dia. É uma memória fedorenta, mas muito cara. Gosto tanto dela como daqueles peidinhos que damos debaixo dos lençóis e depois cheiramos carinhosamente. Aqueles peidinhos que nos reconfortam, mas que não passam de memórias mal cheirosas das nossas entranhas. Merdas por resolver.




Pedro Marques @ 14:20

Sab, 05/09/09

Há uma frase feita que está na moda: "É o meu sonho." Por todo o lado e em todas as ocasiões as pessoas dizem "o meu sonho é...", "desde pequeno que sonho com..." etc. Não consigo compreender. Sonharam mesmo ou é apenas uma maneira de dizer, eu sou eu, eu também tenho direitos e sou ambicioso e temerário e não devo nada a ninguém?

Ou eu sou muito pouco sonhador ou então muito hedonista. Porque sonhos de uma vida assim ou assado nunca tive. A minha vida foi sempre a perder, como dizem os Xutos, ou a viver como gosto eu de dizer. E nessa vida não há espaço para sonhos. Na minha vida não há espaço para mentiras, fantasias e outras coisas que as pessoas inventam para tornarem a vida mais suportável.

Hoje em dia as pessoas esforçam-se muito para parecerem felizes, para fazerem uma vida sem privações, muito modernas, independentes, comendo apenas vegetais, fazendo plásticas aos 30, abstendo-se de ter filhos (apenas porque, espantem-se, não foram feitas para isso! - pode-se imaginar um egoísmo maior?), outras pessoas, realizando-se profissionalmente, dizendo que só quando tiverem condições é que poderão ter filhos e realizar os seus sonhos de maternidade ou paternidade.

Para mim é esta a vida com que NÃO sonhei.

Gosto mais da honestidade do fracasso (ainda que não saiba lidar bem com ele). Gosto mais da imperfeição e da humanidade das pessoas. Gosto mais da sinceridade com que se diz, "não concordo", do que a hipocrisia com que se diz "não te quero perder".