Escrevo este manifesto para demonstrar que se podem realizar acções opostas, ao mesmo tempo, num único e fresco movimento. Sou contra a acção; e em relação à contradição conceptual, e à sua afirmação também, não sou contra nem a favor.


Pedro Marques @ 20:31

Qua, 02/11/11

A pedido de um número de pessoas crescente, aqui fica o novo hino nacional português (também se deve aplicar à Grécia, Itália e outros pigs...)

 

 

HERÓIS DO MAL

POBRE POVO

NAÇÃO DOENTE

E MORTAL

EXPULSAI OS TUBARÕES

EXPLORADORES DE PORTUGAL

ENTRE AS BURLAS DA VERGONHA

Ó PÁTRIA CALA-LHE A VOZ

DESSA CORJA TÃO FEROZ

QUE HÁ-DE LEVAR-TE À MISÉRIA

PRÁ RUA PRÁ RUA
QUEM TE ESTÁ A ANIQUILAR

PRÁ RUA PRÁ RUA

OS QUE SÓ ESTÃO A CHULAR

CONTRA OS BURLÕES

LUTAR LUTAR

 


Tags:


Pedro Marques @ 11:18

Qui, 30/06/11

As eleições do princípio do mês em Portugal marcaram uma viragem à direita do país. Mais grave ainda, mostraram-nos que 85% dos representantes do povo são a favor do Memorando assinado com a Troika (BCE e FMI). Por isso, estamos todos agarrados ao cumprimento de várias medidas de austeridade, descidas de salários, aumento de impostos, etc, sempre as mesmas medidas dirigidas aos mesmos. Na Grécia vemos aquilo em que o nosso país se vai tornar daqui a um ano se cumprirmos estas medidas cegamente sem ter em atenção o crescimento económico.

 

Portugal foi tomado de assalto pelos partidos do regime.

Pelos partidos políticos que venderam, retalharam, sufocaram, estriparam o país em sucessivos governos desde, pelo menos, 1986 - desde aquela nova oportunidade que se chamava CEE. Esses partidos são responsáveis pelo estado calamitoso a que o país chegou. Mas, dito isto, devemos também perceber o que significa esse estado de calamidade. Este medo crescente, esta pressão constante tem uma origem apenas, e chama-se CAPITALISMO e a sua ORDEM FINANCEIRA. Reparem que não digo "capitalismo selvagem" ou "desregrado" ou qualquer outro eufemismo com que costuma ser baptizado para designar a selvajaria do mundo de hoje. Não, falo do Capitalismo que tem por base o "lucro" (filho de Adam Smith e outros economistas criminosos) e o nosso sistema financeiro que destruiu a pouca economia que ainda mantinha uma relação mais ou menos clara com o TRABALHO. Hoje em dia, o trabalho realizado não tem nada a ver com o preço dos produtos. Em Portugal, como no mundo, o que frutifica são os produtos financeiros, a (mentira) da publicidade, o esquema jurídico e policial que mina as instituições, sejam elas quais forem, a fama desportiva e artística completamente deslocada da realidade, desde os ordenados milionários do Ronaldo aos prémios chorudos de Hollywood. Aquilo que medra, hoje em dia, em geral, é a mediocridade das relações das pessoas, completamente afastadas e destituídas da sua razão de viver. Pessoas normalmente bem formadas, educadas e civilizadas, tornam-se em animais sedentos de competição dependendo do sítio onde se encontram, dependendo dos seus "interesses" legítimos.

 

É neste caos de relações destruídas, de pessoas e instituições, estados e organizações internacionais, que temos de salvar a Grécia ou bombardear a Líbia, temos de pressionar o Irão e beatificar Israel, é neste vórtice que torna o nosso mundo também tão interessante que temos de discernir aquilo que nos mais convém e lutar por aquilo em que acreditamos. É isso que faço todos os dias. É isso que faço neste momento.

 

Um blog é aquilo que as pessoas que o lêem fazem dele e não aquilo que o seu criador quer que ele seja. Tenho a noção de que aquilo que escrevo tem pouco ou nenhum alcance na nossa sociedade portuguesa podre, mas nem essa céptica noção me leva a calar-me.

 

A nossa sociedade, capitalista, financeira, competidora é um embuste. Acho que é isso que quero dizer. Precisamos de uma nova economia, uma economia que seja mesmo "económica" e não como é agora, uma economia que "consome". Consumir o mais possível não é, nem nunca foi, economizar. Consumir com base na publicidade (enganadora) ou naquilo que nos dizem que temos de comprar (seja o sabonete para combater os vírus, seja os pepinos estragados, seja o antrax, etc.) só perpetuará a ordem multinacional dos produtos e encherá os bolsos daqueles que realmente mandam neste jogo viciado: os bancos centrais.

 

O meu conselho é: não acendam a televisão, não se deixem enganar pelo medo com que nos mantêm em rédea curta. Ignorem-nos. Forjem um mundo novo dentro da vossa casa e depois exportem-no para a rua, mas não se deixem enganar por aquilo que vos dizem os Marcelos e os Sousa Tavares e os pivots dos telejornais.

 

Falta pouco para irmos para a rua como os gregos. Mais exatamente um ano. :)


Tags:


Pedro Marques @ 12:57

Qui, 05/05/11

 

E pronto. Já está. Foi feito um acordo com o FMI e o BCE. Vão emprestar-nos 78 mil milhões de euros. Vamos endividar-nos ainda mais. A bola de neve prossegue o seu caminho.

Como é que vamos pagar? Não se sabe.

O país vai crescer? Nos primeiros anos, não. Depois crescerá, dizem. Ahahahah.

E quem vai pagar? Nós.

Outra vez. Vamos ser nós outra vez a dar dinheiro ao FMI, a juros de 3% primeiro e depois de 4%.

E a pergunta mantém-se.

Vieram eles ajudar-nos? Deixem-me rir.

Um banco a ajudar as empresas, o povo, o país?

Mas nós acreditamos mesmo nisso?

Como vamos nós pagar se continuamos a não produzir nada que nos distinga no mundo?

Como vamos nós sobreviver como país quando este dinheiro desaparecer?

Pedimos outro empréstimo?

Nas televisões, os técnicos pululam, descobrindo falhas, mostrando que o FMI é tudo menos inocente. Eles exigiram medidas, mas aquilo que eles queriam era conceder o empréstimo, mais nada. As medidas são uma fachada. Vamos ter de ser nós a resolver o problema, a suportar as medidas de austeridade, a trabalhar mais (sempre), a produzir o mesmo, a descontar aquilo que não é razoável enquanto o país, assente na mesma contradição de sempre, se vai endividar ainda mais.

Há pessoas na RTP que dizem que o Estado está gordo, tem empresas a mais, funcionários a mais, jobs a mais, concordo, mas as pessoas que o dizem com mais radicalismo são as mesmas que depois vemos em organismos do Estado a ganhar o seu salário acima da média, a usufruir as suas garantias como o 13º e 14º mês, a rezar por pontes e feriados, a adormecer depois do almoço para depois entrarem no seu carro último modelo em direcção à fila de carros mais próxima, até chegarem a casa hipotecada onde poderão invetivar contra o Estado.

É nessa contradição que estamos. O PSD e o PS endividam o país, mas estão desejosos de chegar ao poder para poderem retalhar este empréstimo pelos seus apoios. Ou pensam que o investimento que tem de ser feito irá para concursos isentos, onde ganham sempre os mais competentes e impolutos cidadãos? Não. Não será assim. Não será assim enquanto o nosso país não apostar em unidades de produção de uma ideia estratégica, seja ela qual for. Este é um país endividado e por conseguinte nas mãos daqueles que nos emprestam dinheiro (alegremente). Para que depois nós lhes paguemos com os nossos sistemas de saúde, de seguros, de água, de educação, aqueles sistemas que garantem o mínimo de equidade na nossa sociedade.

O 25 de Abril foi, de facto, o momento mais alto da nossa democracia, daí para cá temos sido sempre menos independentes. Revolução nas próximas eleições já! Votem!


Tags: ,


Pedro Marques @ 13:48

Qui, 14/04/11

O pedido de ajuda de Portugal para as suas dívidas junto do Fundo Monetário Internacional e da União Europeia na última semana deve servir de aviso para todas as democracias. As crises que começaram com os resgates da Grécia e Irlanda no ano passado tiveram uma feia reviravolta. Contudo, este terceiro pedido de resgate não é realmente sobre dívida. Portugal teve uma forte performance económica nos anos 90 e estava a conseguir a sua recuperação da recessão global melhor do que muitos outros países na Europa, mas viu-se sob injusta e arbitrária pressão dos correctores, especuladores e analistas de rating de crédito que, por visão curta ou razões ideológicas, conseguiram forma de afastar uma administração democraticamente eleita e potencialmente amarrar as mãos da próxima.

Se deixadas sem regulação, estas forças de mercado ameaçam eclipsar a capacidade dos governos democráticos — talvez até da América — para fazerem as suas próprias escolhas sobre impostos e despesas. As dificuldades de Portugal eram admitidamente semelhantes às da Grécia e Irlanda: para os três países, a adopção do Euro há uma década significou que tiveram de ceder o controlo das suas políticas monetárias, e o repentino incremento dos níveis de risco que regulam os mercados de obrigações atribuíram às suas dívidas soberanas despoletou imediatamente os pedidos de resgate.

Mas na Grécia e Irlanda o veredicto dos mercados reflectiu profundos e facilmente identificáveis problemas económicos. A crise portuguesa é bastante diferente; não houve uma genuína crise subjacente. As instituições e políticas económicas em Portugal que alguns analistas financeiros vêem como potencialmente desesperadas tinham alcançado notável sucesso antes desta nação ibérica de dez milhões ser sujeita às sucessivas ondas de ataque dos mercados de obrigações. O contágio dos mercados e redução de notação, que começaram quando a magnitude das dificuldades da Grécia emergiu no início de 2010, transformaram-se numa profecia que se cumpriu a si própria: ao aumentar os custos da dívida portuguesa para níveis insustentáveis, as agências de rating forçaram Portugal a procurar o resgate.

O resgate deu poder aos ‘salvadores’ de Portugal a pressionarem por impopulares políticas de austeridade que afectaram empréstimos de estudantes, pensões de reforma, subsídios sociais e salários públicos de todos os tipos. A crise não é culpa do que Portugal fez. A sua dívida acumulada está bem abaixo do nível de nações como a Itália que não foi sujeita a tão devastadoras avaliações. O seu défice orçamental é mais baixo do que muitos outros países europeus e estava a diminuir rapidamente graças aos esforços governamentais.

E quanto às perspectivas de crescimento do país, que os analistas convencionalmente assumem serem sombrias? No primeiro quarto de 2010, antes dos mercados empurrarem as taxas de juro nas obrigações portuguesas para os limites, o país tinha uma das melhores taxas de recuperação económica na União Europeia. Numa série de reformas — encomendas industriais, inovação empresarial, realização educacional, e crescimento das exportações — Portugal igualou ou mesmo ultrapassou os seus vizinhos do Sul e até da Europa Ocidental. Por que razão, então, foi tão desclassificada a dívida portuguesa e a sua economia empurrada para o limite?

Há duas possíveis explicações. Uma é o cepticismo ideológico em torno do seu modelo económico misto, que suportava empréstimos às pequenas empresas, em conjunto com algumas grandes companhias públicas e um robusto estado-providência. Os mercados fundamentalistas detestam intervenções de estilo keynesiano em áreas da política interna portuguesa — que evitavam uma bolha e preservavam a disponibilização de rendas urbanas baixas — na assistência aos pobres.

A falta de perspectiva histórica é outra explicação. O nível de vida dos portugueses cresceu muito nos 25 anos que se seguiram à revolução democrática de Abril de 1974. Nos anos 90 a produtividade laboral cresceu rapidamente, as empresas privadas aprofundaram o investimento com a ajuda do governo, e os partidos tanto de centro-direita como de centro-esquerda apoiaram o aumento da despesa social. Por altura do fim do século o país tinha uma das taxas de desemprego mais baixas da Europa.

Para fazer justiça, o optimismo dos anos 90 deu origem a desequilíbrios financeiros e ao gasto excessivo; os cépticos quanto à saúde da economia portuguesa apontam para a sua relativa estagnação entre 2000 e 2006. Apesar disso, no início da crise financeira global em 2007, a economia estava de novo a crescer e o desemprego a descer. A recessão acabou com essa recuperação, mas o crescimento retomou-se no segundo quarto de 2009, mais cedo do que noutros países. Não se podem culpar as políticas domésticas.

O primeiro-ministro José Sócrates e o governo socialista mexeram-se para cortar no défice enquanto promoviam a competitividade e controlavam a despesa pública; a oposição insistia que podia fazer melhor e forçou o senhor Sócrates a demitir-se este mês, preparando o palco para novas eleições em Junho. Isto é normal em política, não um sinal de confusão ou incompetência como alguns críticos de Portugal acenaram. Podia a Europa ter evitado este resgate?

O Banco Central Europeu podia ter comprado de forma agressiva as obrigações de Portugal e protegido o país do pânico mais recente. Regulação da União Europeia e dos Estados Unidos sobre o processo utilizado pelas agências de rating para avaliar a fiabilidade de crédito da dívida de um país é essencial. Distorcendo as percepções dos mercados sobre a estabilidade portuguesa, as agências de rating — cujo papel em fomentar a crise hipotecária nos Estados Unidos está amplamente documentado — armadilharam tanto a sua recuperação económica como a sua liberdade política. No destino de Portugal reside um claro aviso para os outros países, os Estados Unidos incluídos.

A revolução portuguesa de 1974 inaugurou uma onda de democratização que varreu o globo. É bem possível que 2011 possa marcar o começo de uma onda de invasão da democracia por mercados desregulados, com Espanha, Itália ou Bélgica como próximas vítimas potenciais. Os americanos não iriam gostar muito se instituições internacionais tentassem dizer a Nova Iorque, ou a outra qualquer cidade americana, para abandonar as suas leis de controlo de rendas.

Mas é este precisamente o tipo de interferência que agora acontece em Portugal — tal como aconteceu na Grécia ou Irlanda, apesar desses países terem maiores responsabilidades no seu destino. Apenas governos eleitos e os seus líderes podem assegurar que esta crise não acaba por minar os processos democráticos. Até agora parecem ter deixado tudo nas mãos da imprevisibilidade dos mercados de obrigações e das agências de rating.

 

Robert M. Fishman, professor de Sociologia da Universidade de Notre Dame.


Tags: ,


Pedro Marques @ 02:16

Ter, 29/03/11

Tradução do artigo que saíu ontem no Sunday Independent, o mais importante jornal irlandês.

 

Caro Portugal,

 

daqui fala a Irlanda. Eu sei que não nos conhecemos muito bem, embora eu tenha ouvido dizer que alguns dos nossos governantes te acompanham no caminho da recessão.

E provavelmente vão continuar por lá por algum tempo. De qualquer forma, eu não quero intrometer-me, mas li acerca de ti nos jornais e parece-me que talvez te possa dar alguns conselhos acerca de onde estás e do percurso que te espera. Como diz agora a anedota, qual é a diferença entre Portugal e a Irlanda? Cinco letras e seis meses.

De qualquer forma, notei que estás sob pressão para aceitar um resgate embora os teus políticos se afirmem determinados para não o aceitar. Será, dizem eles, sobre os seus cadáveres. Na minha experiência isso quer dizer que vão receber o resgate em breve, provavelmente no domingo. Primeiro deixa-me explicar algumas nuances da língua inglesa. Uma vez que o inglês é a vossa segunda língua, talvez penses que as palavras ‘bailout’ e ‘aid’ significam que vais receber ajuda dos nossos companheiros europeus para ultrapassares as tuas actuais dificuldades. O inglês é a nossa primeira língua e isso era o que nós pensávamos que essas palavras significavam. Deixa que te avise, que não só este resgate, quando te for inevitavelmente forçado, não te vai ajudar a resolver os vossos problemas, como vai prolongar esses problemas para as próximas gerações.

Por este ‘favor’ vão esperar que te se sintas agradecido. Se quiseres procurar a palavra certa em português para ‘bailout’, sugiro que pegues num dicionário inglês-português e procures palavras como: ‘moneylending’ (empréstimo de dinheiro), ‘usury’ (usura), ‘subprime mortgage’ (hipoteca de alto risco) ou ‘rip-off’ (roubo). Todas estas dar-te-ão uma tradução mais precisa daquilo que te vai acontecer.

Percebi também que vais mudar de governo nos próximos meses. Perdoa-me que me permita um pequeno sorriso sobre isso. Fica à vontade, põe lá uma camada fresca de tinta sobre todas essas brechas na tua economia. Aproveita para apreciar o cheiro da tinta fresca enquanto ele durar.

Nós também arranjámos um novo governo e foi uma bela diversão durante algumas semanas. O que vais verificar é que o novo governo virá do meio de um sentimento de euforia das pessoas. O novo governo fará todo o tipo de promessas durante a campanha eleitoral, sobre como reduzir a dependência externa e sabe-se lá mais o quê, e a UE vai sorrir benignamente enquanto eles prosseguem a conversa fiada.

Depois, esse governo vai subir ao poder, vai começar por ir à Europa e atirar alguns números. Talvez até ganhem alguns eventos desportivos contra um velho inimigo, seja ele quem for, e talvez atraiam a visita de alguns dignitários internacionais como o Papa ou outros. Haverá um sentimento agradável no ar e toda a gente se vai refugiar nessa ilusão durante algum tempo.

E, Portugal, aprecia isso enquanto durar. Porque a realidade vai estar à espera para se voltar a intrometer logo que a diversão acalmar. A vantagem é que o preço do golfe se tornou muito competitivo por aqui. Provavelmente vai acontecer o mesmo aí em baixo, espero encontrar-te nessa altura.

 

Beijos, Irlanda.