Escrevo este manifesto para demonstrar que se podem realizar acções opostas, ao mesmo tempo, num único e fresco movimento. Sou contra a acção; e em relação à contradição conceptual, e à sua afirmação também, não sou contra nem a favor.


Pedro Marques @ 01:39

Dom, 25/11/12

Há um pássaro amarelo no meu olhar

Ele canta, mas não para mim

Vejo-o trinar

Mas não o ouço

Uma parede de vidro silencia-o.

 

Tenhos dois faróis no meu mundo

Iluminam-me, nas minhas trevas

Procuro a surpresa

Encontro a beleza

Num abraço eterno de vida e sol.

 

Ao meu lado um corpo de carne e ossos

Uma pessoa como eu

Tão perto tão longe

De mim, quanto eu

Agora, neste poema.

 

A memória do futuro afunda-se-me no cérebro
Revejo o passado, ele queima-me a pele

Dói-me o corpo do momento

Aqui e agora é tudo o que eu sei,

Num abraço eterno de vida e sol.


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Pedro Marques @ 12:43

Ter, 10/01/12

Objetos voadores ao sol

Novas nuvens no planador

Tirantes de plástico mole

Ele e ela - o amor

 

Lagostas suadas ao sol

Verde rosa pela paz

Explosão de plástico mole

Repetida num bordel ao sol

 

Deus de plástico mole

Careful with that axe, Eugene

Um planador voador ao sol

Explosão repetida - um bordel ao sol

 

Ele e ela na casa de Verão

Lagostas verdes de plástico mole

Nuvens rosa na explosão

Um bordel ao sol

 

Novos planos nos prédios da cidade

Aberta ao mal

Plástico mole nas fardas

Da explosão

Ele e ela pela paz

Num bordel ao sol


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Pedro Marques @ 23:20

Qui, 23/09/10

Tu estás em mim como eu estive no berço

como a árvore sob a sua crosta

como o navio no fundo do mar

 

Mário Cesariny, Pena Capital.




Pedro Marques @ 00:33

Seg, 20/09/10

Na penitenciária

A copiar as letras dos maços de cigarros

O trabalhador e revolucionário socialista

Nikolay Vasilyev aprendeu sozinho a ler

Pegou em livros, usou o conhecimento

E escreveu, em maiúsculas,

‘SR. PROMOTOR PÚBLICO, SENHOR, FUI ATIRADO PARA ESTE BURACO

SEM RAZÃO

SEM LUZ, AR, ESPAÇO OU COMPANHIA

NÃO TEM DEUS?’

 

Não teve resposta

Uma noite, empilhou os livros em cima de si próprio

Pegou-lhes fogo e morreu carbonizado

 

Podemos aprender muita coisa com isto

Quando o conhecimento é ensinado por ignorantes

Não devemos temer os que queimam livros

Mas sim os construtores de bibliotecas

 

Edward Bond, tradução minha.




Pedro Marques @ 21:34

Qua, 07/04/10

Falhas, todos temos

mas crónicos remorsos

são por mais indesejáveis.

 

Se agiste mal, ei

corta essa,

mas tenta pensar melhor

da próxima vez.

 

Não te deixes cair

em tentações melancólicas,

porque rebolar no lodo

só serve para te sujares.

 

Xutos & Pontapés, 78/82.




Pedro Marques @ 18:11

Qua, 07/04/10

O amor é o amor - e depois?!

Vamos ficar os dois

a imaginar, a imaginar?...

 

O meu peito contra o teu peito,

cortando o mar, cortando o ar.

Num leito

há todo o espaço para amar!

 

Na nossa carne estamos

sem destino, sem medo, sem pudor,

e trocamos - somos um? somos dois?

- espírito e calor!

 

O amor é o amor - e depois?!

 

Alexandre O' Neill




Pedro Marques @ 18:55

Ter, 25/08/09

amor na mesa da nossa sala na nossa casa deve ter ficado o papel com o nome e indereço e telef do hotel de florenza. podes mandar-me um sms já com tudo? amo-te


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Pedro Marques @ 17:07

Qui, 13/08/09

Às vezes sabes sinto-me farto

por tudo isto ser sempre assim

Um dia não muito longe não muito perto

um dia não é que eu pareça lá muito hirto

entrarás no quarto e chamarás por mim

e digo-te já que tenho pena de não responder

de não sair do meu ar vagamente absorto

farei um esforço parece mas nada a fazer

hás-de dizer que pareço morto

que disparate dizias tu que houve um surto

não sabes de quê não muito perto

e eu sem nada pra te dizer

um pouco farto não muito hirto e vagamente absorto

não muito perto desse tal surto

queres tu ver que hei-de estar morto?

 

Ruy Belo, Homem de Palavra(s). Assírio & Alvim.





Pedro Marques @ 18:37

Sab, 27/06/09

Separados fomos por cítaras e canto

E pelos longos poemas silabados

E entre nós deitaram-se paisagens

Que nos mantinham imóveis e distantes

 

Embora o fogo secreto das palavras

E a veemência do canto e das imagens

Embora a paixão das noites consteladas

E o nevoeiro tocando a nossa face

 

Separados fomos por cítaras e cantos

Como outros por prisões ou por espadas

 

Sophia de Mello Breyner, Obra Poética III. Editorial Caminho.