Escrevo este manifesto para demonstrar que se podem realizar acções opostas, ao mesmo tempo, num único e fresco movimento. Sou contra a acção; e em relação à contradição conceptual, e à sua afirmação também, não sou contra nem a favor.


Pedro Marques @ 17:51

Seg, 04/10/10

"Amigos negros, não chegou ainda o momento do texto declamado. Dir-vos-ei apenas que esta mulher era branca e que a pretexto do nosso cheiro se dispunha a fugir. Fugir de mim, porque não tinha coragem de mandar apanhar. Ah, esse tempo maravilhoso em que se podia apanhar um preto e um antílope! O meu pai contou-me..."

Em 1959 estreou Os Negros de Jean Genet, numa encenação de Roger Blin. A peça, que devia ser representada por negros com máscaras brancas que espelhassem o público de brancos a que se dirigia, foi um imediato êxito. Nela, o autor, através de um mínimo de narrativa, o julgamento do crime de uma mulher branca, consegue pôr em confronto poético dois lados de uma mesma moeda: a sociedade, que através do teatro se vê, se julga, se incrimina, faz justiça.

O discurso dos negros pode estar desadequado aos dias de hoje (será mesmo?), com toda a sua retórica em que se envolve África, mas o que fica da leitura deste magnífico texto é a glorificação da luta, a sublimação dos sempre vilipendiados quando eles se revoltam.

Aproveitem para ler nesta versão dos Livrinhos dos Artistas Unidos. Nº 50. Tradução de Armando Silva Carvalho.