Escrevo este manifesto para demonstrar que se podem realizar acções opostas, ao mesmo tempo, num único e fresco movimento. Sou contra a acção; e em relação à contradição conceptual, e à sua afirmação também, não sou contra nem a favor.


Pedro Marques @ 14:14

Qui, 10/03/11

1. Estou feliz com a vitória dos Homens da Luta no Festival da Canção. Não que a música seja alguma coisa de interessante ou eles saibam cantar (ainda bem que não sabem), não que o próprio festival tenha alguma credibilidade, apenas porque é a vitória da utopia, do progressismo contra o habitual cinzentismo. É a vitória da arte e da ironia contra o quotidiano banal e desinteressante, uma vitória contra as opiniões de especialistas que fazem sempre os mesmos erros, cíclica e ininterruptamente. Os Homens da Luta valem cada centímetro do seu empenho por uma sociedade mais participativa, menos alheada e conformista. Precisamos de mais gente assim, que dê o peito às balas sem medos, sem preconceitos.

Num destes dias o escritor-comentador-fazedor de opiniões Miguel Sousa Tavares acusou-os de serem demagógicos com um discurso que tem quarenta anos e para o qual ele "já deu". É muito triste quando uma pessoa inteligente como o MST não consegue perceber as personas que estes humoristas representam nem ver o brilho do anacronismo que demonstram. Há anos insurgi-me aqui contra as pessoas (ignorantes) que acusavam MST de plágio no seu livro Equador, lembram-se? Agora digo o mesmo destes comentadores que subitamente despem a sua capa iluminada para vestirem mais depressa ainda a roupa de protectores de um sistema que está falido de argumentos, eles sim, caducos e obsoletos.

O mesmo tipo de argumentos que o leva a defender a opinião de que os Deolindos (foi este o feio nome que MST chamou a uns artistas colegas dele) são apenas uma demagogia, sem se conseguir distanciar da política e ver aquilo que aquela música realmente é: Arte, com "A" grande. Comprometida com o seu tempo, reflectindo o seu tempo, sendo voz de uma geração, sim, mas também de um povo que está sempre a adiar. Acho que MST devia ouvir a canção outra vez. Não para conhecer a letra, mas sim para ouvir OUTRA VEZ a música. MST demonstrou o mesmo tipo de tacanhez que teve de combater quando rebentou a polémica do seu "suposto" plágio e isso prova da sua indecorosa superficialidade ao abordar a questão no jornal da TVI. 

 

2. Estou feliz com as revoluções nos países árabes. Os nossos naturais irmãos do Mar Mediterrâneo. Os países do Norte de África são a continuação natural da Europa. Durante séculos, esse mar foi o centro do mundo ocidental, de civilizações imperiais como a egípcia, a grega ou a romana que tinham como base esse mar onde se comerciava e onde tudo acabava. Depois da expansão a Leste, será agora o mundo islâmico a implodir, ou pelo menos a relação promíscua entre ditadores, líderes religiosos e magnates do petróleo. Perigosos todos eles porque têm duas coisas fundamentais que tornam as pessoas perigosas: armas e dinheiro para comprar armas.

Temos de dar as boas-vindas aos novos países democráticos que vão sair destas revoluções pacíficas e que, como nós, têm justas aspirações a regimes mais liberais, ou mais "ocidentalizados". Agrada-me pensar que ele estão agora a viver o seu 25 de Abril, a sua revolução pacífica, neste caso, onde o Estado se separa da Religião, uma revolução que, espero, não seja como a nossa e não traga de volta os mesmos barões que nos infestaram nos anos 90 e nos conduziram a este estado calamitoso.

 

3. No próximo sábado, não basta ir para a luta dizer que precisamos acabar com a precariedade, é preciso forjar uma nova maneira de olhar para os problemas. Não basta dizer que os salários são baixos, não basta dizer que não temos produtividade, não basta apontar os problemas, é preciso mostrar como podemos resolvê-los. Para isso são precisas ideias. O meu cartaz vai dizer: "JUROS DA DÍVIDA PÓ CARALHO!"