Em setembro de 1970, Steve Hackett assiste a um espectáculo dos Genesis na expectativa de poder vir a integrar a banda. Ele gostou e achou que podia tocar tão bem quanto Anthony Philips. Foi convidado. Estava encontrada a formação que viria a produzir os clássicos
Musical Box,
Supper’s Ready e
Firth of Fifth.

Em 1971, os Genesis lançam o álbum
Nursery Cryme. A abertura de
The Musical Box, com a sua teia de cordas tocadas por três guitarras faz-nos imaginar mundos aéreos voluptuosamente reais.
The Return of the Giant Hogweed é a história de uma erva daninha inteligente que invade a Inglaterra.
Seven Stones fala dos acontecimentos casuais e extraordinários que nos formam.
Harold the Barrel uma espécie de
vaudeville sobre o dono de um restaurante que corta os dedos dos pés, serve-os dentro de chávenas com chá e foge a seguir – os desenvolvimentos subsequentes envolvem o aparecimento de várias vozes que Gabriel domina com camaleónica destreza. Entre elas, a multidão enfurecida e a mãe que tenta impedir o suicídio do pobre proprietário que entretanto, no parapeito de uma janela, atacado por um inconfessável desejo de liberdade está pronto a saltar para a morte.
For Absent Friends é uma balada que revela Phil Collins como vocalista que se deixa embalar pelas guitarras de 12 cordas de Rutherford e Hackett.
Harlequin, também balada, desta vez cantada por Gabriel, lembra as atmosferas de
Trespass.
The Fountain of Salmacis é o
tour de force final onde os Genesis nos contam a história da ninfa Salmacis e do encontro com Hermafrodita.
A capa do disco tenta recriar a atmosfera de
The Musical Box onde um velho morre às mãos do taco de pólo que a enfermeira usou para lhe arrancar a cabeça. A enfermeira vai, curiosa, ao quarto e põe a caixinha de música a tocar. Dela sai a cabeça do velho que assume a forma bizarra de uma criança com barbas.
É extraordinário o modo como os Genesis criam o ambiente para esta estranha história, alternando surpresa e mistério com a luxúria dos arranjos das guitarras, combinando ritmos assimétricos e timbres suaves. Brincando com palavras e sons:
And the clock. Tic-Toc, on the mantlepiece. Com a chegada de Phil Collins a música é mais angular e aparentemente mais agreste que em
Trespass, mas esses atributos são compensados pela imaginação melódica e harmónica de Banks e a segunda voz de Hackett que assegura movimentos polifónicos mais complexos. Apesar da mudança estética o álbum vende muito pouco e os Genesis continuam apenas a prometer.
Esse mais que prometiam viria no ano seguinte com a edição de
Genesis Live e depois o novo álbum de originais,
Foxtrot, para muitos o disco de eleição do grupo. O primeiro é uma tentativa de capturar o novo som dos Genesis e as particularidades teatrais da voz de Gabriel, muito mais relevantes nos espectáculos.
Ambos os discos abrem com "Watcher of the Skies".

O grupo usava esse tema para começar os espectáculos. Aproveitando a abertura com acordes planantes de mellotron (instrumento que não era mais que um sampler analógico de instrumentos de cordas, flautas ou vozes, muito em voga) os Genesis surgiam gradualmente de uma nuvem de fumo, enquanto Gabriel pairava como Peter Pan. É nesta altura que os espectáculos dos Genesis começam a viver da figura do vocalista e da teatralidade que emprega nas apresentações. Ironicamente, a dependência em torno da espectacularidade de Gabriel tornou-se mais tarde motivo para o abandono do vocalista.
Foxtrot incluía ainda a belíssima balada "Time-Table" sobre o romantismo dos tempos medievais, "Get ‘Em Out By Friday" – o arrendamento e a avidez dos proprietários, numa veia parecida com "The Return of the Giant Hogweed", do álbum precedente, e "Can Utility and the Coast Liners", sobre o rei Canuto, que começa como balada e depois desenvolve para uma espécie de sinfonia rock complexa onde se apela ao virtuosismo musical da banda, com ritmos e timbres alternantes, ricamente orquestrados, com especial incidência para a secção rítmica Collins e Rutherford. O lado B começa com "Horizons", peça para guitarra acústica solo que será para sempre a imagem de marca de Steve Hackett e termina com "Supper’s Ready" onde o grupo voga ao sabor das mudanças das personagens de Gabriel e de uma história dentro de uma história dentro de uma história... é uma peça com cerca de 20 minutos que sublima a complexidade e dramatismo que a música dos Genesis desenvolvia. Em
Foxtrot, os Genesis atingem o cume da criatividade musical e lírica. Posto que iam ocupar durante os próximos dois anos com os sucessores:
Selling England by the Pound e
The Lamb Lies Down on Broadway.
O disco seguinte voltava a abrir (como em
Trespass e
From Genesis to Revelation) com a voz de Gabriel
a capella:
Can you tell me where my country lies, said the unifaun to his true love’s eyes em "Dancing With the Moonlit Knight", revelando uma veia menos romântica e mais política na abordagem tanto das letras como da música. O grupo parece mais preocupado em ir ao encontro do público crescente pelo êxito de
Foxtrot.

O disco também inclui o primeiro de muitos singles de sucesso: "I Know What I Like (In Your Wardrobe)", onde Peter Gabriel personifica um cortador de relva:
Me? I´m just a lawnmower, you can tell it by the way I walk. "Dancing With the Moonlit Knight" é o cartão de apresentação de
Selling England By the Pound, com a sua letra ácida e melodia apropriada. A visão corrompida de uma Inglaterra que obedece aos valores do dinheiro e do acaso. O
unifaun da frase de abertura, que procura o seu país, é a velha Inglaterra, uma mistura de Unicórnio e Fauno, e por vizinhança fonética: "uniform". Quem responde à pergunta é a
Queen of Maybe (Rainha do Talvez) que revela com o seu nome a falta de horizontes. No final do lado 1, Phil Collins canta uma balada sobre as separações dolorosas: "More Fool Me". O lado 2 abre com "The Battle of the Epping Forest", a narração de uma batalha num tom épico de proporções homéricas. "Cinema Show", fala do dia em que Romeu e Julieta vão ao cinema. Este tema, à semelhança de "Firth of Fifth", inclui as passagens instrumentais mais ousadas da banda até à altura. Os temas teatrais de Gabriel despoletam a imaginação do quarteto de um modo que poucas vezes conseguiram igualar. Rutherford alterna guitarra de doze cordas e baixo, Steve Hackett, ora nos conduz melodicamente, ora deixa essa tarefa aos sintetizadores de Banks. Phil Collins constrói alternâncias suaves de ritmos complexos e timbres contrastantes e mantém a tensão que é resolvida nas melodias de Gabriel ou em lagoas de flautas e mellotron. O disco atingiu um sucesso sem precedentes (Gabriel foi receber os prémios do disco de ouro com um fato feito de notas de libras) e os Genesis confirmaram-se como uma das mais originais bandas do rock dos anos 70. Por esta altura o grupo subia vertiginosamente na popularidade – os seus melhores e piores momentos ainda estariam por vir.