Escrevo este manifesto para demonstrar que se podem realizar acções opostas, ao mesmo tempo, num único e fresco movimento. Sou contra a acção; e em relação à contradição conceptual, e à sua afirmação também, não sou contra nem a favor.


Pedro Marques @ 00:00

Ter, 22/12/09

A chirivia, chirívia, cherovia, cherivia, cherívia ou pastinaga (Pastinaca sativa) é uma raiz que se usa como hortaliça, relacionada com a cenoura, mas mais pálida, e de sabor mais intenso.

O cultivo remonta a tempos antigos na Eurásia: antes do uso da batata, a pastinaga ocupava o seu lugar.

Em Portugal é cultivada na região da Serra da Estrela.

A pastinaga tem mais vitaminas e sais minerais que a cenoura.




Pedro Marques @ 16:25

Sab, 15/09/07

Cada vez mais acho que a culinária nos diz coisas importantes sobre a vida em geral. Descobri que para nos relacionarmos com as outras pessoas é sempre preciso vários ingredientes, em quantidades certas, de maneira a não azedarmos ou salgarmos uma relação. Isto pode até parecer óbvio para muitas pessoas, mas eu, só há pouco tempo acordei para este facto.
Também não vou escrever nenhum post de auto-ajuda igual àqueles livros que agora se lêem, é apenas a receita de uma sopa. Contudo, por trás da cebola, do azeite que deve ser bem medido, da folha de louro e das duas colheres de vinagre corre uma química milenar que é basilar da nossa sociedade. Quer se queira quer não estas duas colheres dependem muito do serviço de mesa que houver em determinada casa. As duzentas gramas de pão foram há muito tempo calibradas pelas pessoas.
Mas o que é que o feijão da beira litoral tem a ver com as eleições legislativas? Perguntam incrédulos. Pois, eu digo. Experimentem ir para uma reunião depois de se ter almoçado Sopa Seca que se Agarra às Costas. Garanto-vos que as consequências dessa reunião assumem proporções internacionais. O feijão não é amigo de reuniões. Contudo, se depois do trabalho, levarmos alguém a jantar, é certo que a partir dessa altura uma qualquer manifestação de apreço pela comida será apreciada. Desse modo até quebramos um certo "gelo" criado pela frieza do protocolo.
Por isso, o feijão às vezes é bem vindo a uma sopa, outras vezes não. Por vezes acrescentamos pão de trigo, outras vezes de milho. Desta vez, escolhi uma receita que me chamou a atenção pelo seu nome - Sopa Seca que Se Agarra Às Costas.
Tive um ataque de nostalgia. Esta sopa tem o nome do arroz que eu comia no Quartel de Abrantes em 1991. Igualzinho, com a diferença de que esse nunca teve honra de destaques na internet...

Se quisermos cozinhar para 4 pessoas
só temos de reunir os seguintes ingredientes:
1 cebola
2 colheres de sopa de azeite
5 dl de feijão vermelho
200 g de pão de trigo
2 colheres de sopa de vinagre
1 folha de louro
1 ramo de salsa
sal e pimenta

e depois preparar:
pica-se a cebola grosseiramente para uma caçoila de barro e leva-se a refogar com o azeite, o louro e a salsa.
Tem-se já cozido o feijão, que foi previamente demolhado.
Junta-se ao refogado um pouco de água de cozer o feijão.
Deixa-se apurar um pouco e adiciona-se o feijão.
Rectifica-se o tempero.
Miga-se o pão sobre o feijão, rega-se com vinagre e leva-se ao forno a tostar à superfície.
Bom apetite.




Pedro Marques @ 23:55

Qua, 13/06/07

Tenho um amigo imaginário que não come senão um determinado prato de comida. É mono.
Não há nem preto nem branco, nem gradações, nem matizes. É bife. Ou é aquela comida certa ou então não come mais nada. É mono. Ele prefere passar fome até à próxima refeição do que comer outra coisa. Tem de comer bife. Não aguenta, começa com vómitos e manda-se para o chão a espernear como as crianças quando querem fazer birra. Um dia comeu uma dourada grelhada e ficou de cama seis semanas. Do trauma. Ele recusa-se a comer outra coisa que não seja aquele específico prato, que pode ter algumas ínfimas variantes (tanto mais insignificantes quanto o valor que ele põe no acto), porque não gosta.
É a ele que esta rubrica é respeitosamente dedicada. Intitula-se: UMA RECEITA PARA TI. Este seu "problema" - eu chamo-lhe problema porque não encontro outra palavra, se alguém tiver ideias, força...! - afasta-o irremediavelmente da variedade e surpresa da vida, tragicamente, por isso, a acompanhar a receita terei o prazer de incluir uma personalidade. Sim, como se tivessem sido essas pessoas a cozinhar estes pratos para o meu imaginário amigo.
Talvez ele assim não se sinta tão sozinho na sua mente mono...



O REI GÍPCIO POMPOSO orgulha-se de apresentar:
PURÉ DE CENOURAS À LA ADOLF HITLER

O chanceler descalça as botas e começa a descascar as batatas e as cebolas em quartos. A seguir raspa as cenouras, lava-as e depois corta-as em cubos. Quando está mais contente o grande ditador corta-as em tiras. Os alhos são descascados com a precisão de quem bombardeia uma cidade. Junta tudo numa panela como se juntasse milhões de judeus, excepto a hortelã, essa fica para o fim. Depois cobre tudo com água, imagina-se Noé a salvar-se do dilúvio, rega com azeite, tempera com sal e leva tudo ao lume. Depois dos legumes estarem cozidos pega na panela e reduz tudo a puré. A melhor maneira é numa batedeira, mas quando ele quer ser mais sádico usa um garfo. Com cuidado, porque os judeus ainda podem estar quentes. Quando é necessário ele junta mais água.
Lava a hortelã muito bem, põe a panela com o puré outra vez ao lume e tempera com um pouco de noz-moscada, sal e as folhinhas de hortelã, deixa ferver e tira do lume quando está pronto. O venerável ditador teutónico corta as fatias de pão em cubos pequenos, frita-os em óleo e dispõe-os nos pratos para acompanhar e decorar a sopa como se depusesse flores na campa de um semita. Mmmmm.
Estão a gostar?