Cada vez mais acho que a culinária nos diz coisas importantes sobre a vida em geral. Descobri que para nos relacionarmos com as outras pessoas é sempre preciso vários ingredientes, em quantidades certas, de maneira a não azedarmos ou salgarmos uma relação. Isto pode até parecer óbvio para muitas pessoas, mas eu, só há pouco tempo acordei para este facto.
Também não vou escrever nenhum post de auto-ajuda igual àqueles livros que agora se lêem, é apenas a receita de uma sopa. Contudo, por trás da cebola, do azeite que deve ser bem medido, da folha de louro e das duas colheres de vinagre corre uma química milenar que é basilar da nossa sociedade.
Quer se queira quer não estas duas colheres dependem muito do serviço de mesa que houver em determinada casa. As duzentas gramas de pão foram há muito tempo calibradas pelas pessoas.
Mas o que é que o feijão da beira litoral tem a ver com as eleições legislativas? Perguntam incrédulos. Pois, eu digo. Experimentem ir para uma reunião depois de se ter almoçado
Sopa Seca que se Agarra às Costas. Garanto-vos que as consequências dessa reunião assumem proporções internacionais. O feijão não é amigo de reuniões. Contudo, se depois do trabalho, levarmos alguém a jantar, é certo que a partir dessa altura uma qualquer manifestação de apreço pela comida será apreciada. Desse modo até quebramos um certo "gelo" criado pela frieza do protocolo.
Por isso, o feijão às vezes é bem vindo a uma sopa, outras vezes não. Por vezes acrescentamos pão de trigo, outras vezes de milho. Desta vez, escolhi uma receita que me chamou a atenção pelo seu nome -
Sopa Seca que Se Agarra Às Costas.
Tive um ataque de nostalgia. Esta sopa tem o nome do arroz que eu comia no Quartel de Abrantes em 1991. Igualzinho, com a diferença de que esse nunca teve honra de destaques na internet...
Se quisermos cozinhar para 4 pessoassó temos de reunir os seguintes ingredientes:1 cebola
2 colheres de sopa de azeite
5 dl de feijão vermelho
200 g de pão de trigo
2 colheres de sopa de vinagre
1 folha de louro
1 ramo de salsa
sal e pimenta
e depois preparar:pica-se a cebola grosseiramente para uma caçoila de barro e leva-se a refogar com o azeite, o louro e a salsa.
Tem-se já cozido o feijão, que foi previamente demolhado.
Junta-se ao refogado um pouco de água de cozer o feijão.
Deixa-se apurar um pouco e adiciona-se o feijão.
Rectifica-se o tempero.
Miga-se o pão sobre o feijão, rega-se com vinagre e leva-se ao forno a tostar à superfície.
Bom apetite.