Escrevo este manifesto para demonstrar que se podem realizar acções opostas, ao mesmo tempo, num único e fresco movimento. Sou contra a acção; e em relação à contradição conceptual, e à sua afirmação também, não sou contra nem a favor.


Pedro Marques @ 17:49

Sex, 30/03/07

Termina hoje o prazo de entrega para o concurso de apoio a projectos pontuais de teatro. A companhia de teatro A&M decidiu não se candidatar ao concurso porque pensa que todo o panorama de criação e produção de peças de teatro em Portugal não pode estar sujeito e condicionado à atribuição de subsídios. Não nos candidatámos porque consideramos a subsídio-dependência um gueto cultural perigoso e não ético. O teatro precisa de público e de viver do público. Com todos os riscos que daí vêm. Achar que o teatro e as artes performativas devem estar à margem do mercado é querer viver à parte da sociedade e não operar com a dialéctica que torna o teatro e a arte viva: a sua relação com o público...
Depois do Programa Operacional de Cultura ter equipado os teatros por todo o país, depois dos teatros terem programadores e equipas técnicas para os pôr a funcionar, é preciso existirem companhias que proponham trabalhos para animar esses sítios.
O problema com que tenho deparado quando faço propostas a esses teatros é que os programadores não sabem que dinheiro vão ter para a programação deste ano. Como é que se pode pôr estas companhias a trabalhar se os sítios onde podem apresentar os trabalhos não sabem que dinheiro vão ter e consequentemente não podem programar? Como é que se pode programar se não se sabe que dinheiro se vai ter? A única coisa que se pode fazer é, depois de se saber que dinheiro há, tapar buracos no tempo. É isso que me parece que a maior parte dos teatros fazem.
A A&M está neste momento a preparar uma nova peça de teatro. Já apresentou o projecto a vários teatros que até agora não responderam. Não porque o projecto não seja interessante, mas porque, como me disseram, não sabem que dinheiro vai haver. Não me disseram nem que sim, nem que não. Apenas que temos de esperar.
E nós esperamos.

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Pedro Marques @ 14:07

Qui, 22/03/07


Na foto, o cenário de Orgia no Teatro Municipal de Bragança, Fevereiro de 2006.

 

Em 2002, eu e o José Airosa formámos a A&M. A A&M (Airosa & Marques) Produções Teatrais Lda, é uma companhia de teatro que tem por objectivo básico a produção de espectáculos teatrais e oficinas de teatro dedicadas à escrita e representação teatrais. (Entretanto extinta, para dar lugar ao projecto Fora de Cena.)
No princípio fomos muito incentivados e apoiados pelos Artistas Unidos (em particular o seu director artístico) e as primeiras actividades tiveram ligação umbilical com esse grupo. Fizemos produções, entre elas, O Amor de Fedra da Sarah Kane que co-encenei, Itália-Brasil 3 a 2 do autor siciliano Davide Enia e mais recentemente, em 2006, Orgia do dramaturgo, poeta, realizador italiano Pier Paolo Pasolini.
Realizámos ainda leituras públicas de teatro dedicadas a autores contemporâneos como Anthony Neilson e Letizia Russo e leituras de poesia na Casa Fernando Pessoa de António Ramos Rosa, Armando Silva Carvalho e Gonçalo M. Tavares.
Sabíamos que o caminho seria difícil, para além do dinheiro a investir teríamos de contar com a inércia e falta de interesse disseminados por toda a sociedade portuguesa em relação a este tipo de actividades. Sabíamos disso, mas o nosso caminho nunca foi o da facilidade.
Por muito que saiba que Portugal é um país que normalmente não se sensibiliza para esse tipo de coisas, adormecido que está à sombra do seu conformismo pós-consumista, não posso deixar de pensar que, pelo contrário, as oportunidades que se abrem são muitas. Se virmos bem, em termos de mercado, as actividades culturais só podem crescer. Porque o panorama não pode estar pior.
Depois de o programa POC ter possibilitado a aquisição de equipamentos culturais a grande parte das câmaras do país, chegou agora a hora de as companhias profissionais pequenas, estruturas com grande capacidade de mobilidade, apresentarem os seus projectos e começarem a colaborar com projectos estruturadores de sensibilidades, criando uma rede de criadores que com o tempo e a assiduidade fixarão públicos.
Quero acreditar que o tempo sombrio das mentes fechadas tem os dias contados. Nós estamos a trabalhar para isso.


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