Escrevo este manifesto para demonstrar que se podem realizar acções opostas, ao mesmo tempo, num único e fresco movimento. Sou contra a acção; e em relação à contradição conceptual, e à sua afirmação também, não sou contra nem a favor.


Pedro Marques @ 18:08

Sab, 27/06/09

Estou a cortar com o passado. Ou melhor, com todo o passado podre que pende da minha memória como aqueles relógios do Dali. O passado que não vale a pena, mole, sem espinha dorsal. Corto com aquelas coisas que não interessam porque só nos fazem gastar energias e nos desiludem constantemente. Os imbecis e os trafulhas. Os hipócritas e os traidores. Está na hora de fazer um balanço. Já tenho idade para isso.

Isto não quer dizer que tudo seja para deitar fora. Ainda há pessoas e memórias que valem a pena. Essas pessoas sabem quem são e não precisam de ser nomeadas. São aquelas pessoas que sempre me respeitaram como eu as respeitei. Aquelas pessoas que me viram errar e carinhosamente mo disseram na cara. Aquelas pessoas que eu vi errar e que ouviram o que eu tinha para dizer. A nossa modéstia deve ser na mesma medida que a nossa generosidade.

Houve um tempo em que amei uma mulher. Amei-a mais do que qualquer coisa no mundo. Amei-a tanto que o meu coração não tinha lugar para mais nada. Nem para mim. Era um amor absoluto, incondicional, abrangente, puro como nunca houve outro. Esse amor acabou. Morreu. Dele guardo memórias, sorrisos, esperanças, projectos a dois que não se concretizaram por mentiras e inconsistências. Por imaturidade e distância.

Agora amo esse amor tão brutal. É um sentimento que não me abandona nem nunca me abandonará. E isso não quer dizer que mantenha uma esperança qualquer dentro de mim. Não. Não é uma obsessão. É apenas uma maneira de dizer: valeu a pena.




Pedro Marques @ 14:39

Qua, 24/06/09

Os dias passam. Por entre preparações para testes, trabalhos que se terminam, outros que estão atrasados e que ainda não passaram da cabeça, peças de teatro para ultimar, traduções para finalizar, projecto a ida para Moscovo.

Há quem diga que virei de lá com ideias diferentes, com outros pensamentos, com outras ideias, que o passado ficará irremediavelmente para trás, que uma viagem faz muito bem à mente. E eu não deixo de pensar em Matsuo Bashô, o poeta japonês do século XVI, que depois de fazer uma viagem por todo o Japão procurando inspiração e iluminação, voltou a casa e descobriu que nós somos iluminados onde estamos, não precisamos de nenhuma viagem para isso. As viagens para a pacificação do nosso coração e mente são interiores. Podemos fugir, ir para os Açores, o Brasil, a Alemanha, a Rússia, mas aquilo que sentimos não nos abandona nunca.

Seria bom inventar uma maneira de fugir de nós próprios quando nos fosse mais conveniente. Quando estamos atados em nós sentimentais e lógicos que não nos deixam ver um palmo à frente do nariz. Seria bom deixar-me para trás como as cobras cascavel fazem às peles.

Um bom amigo meu diz que temos de estar tranquilos em relação aos nossos sentimentos: eles são verdadeiros. E não é aquilo que os outros pensam que eles são que importa. É aquilo que sentimos. E devemos ter a consciência tranquila. Andar para a frente (haverá maneira de andar para trás no tempo? se há quero saber...), não esperar nada, e como dizia o Jim Morrison take it as it comes. Ou como diz o Hermeto Pascoal: pensamento positivo atrai pensamento positivo.




Pedro Marques @ 21:55

Qui, 18/06/09

Tenho observado que as pessoas cada vez usam mais o ipod. Das 41 pessoas que iam na carruagem do comboio hoje, 7 iam de headphones postos. Cerca de 16%.




Pedro Marques @ 19:57

Sab, 09/05/09

Várias coisas:

1ª - estive dois dias doente com febre. Por isso, àqueles que não concordem com o que vou dizer vejam isso como sinal de uma convalescença ainda a decorrer.

2ª - para todas as mulheres que acham que a coisa mais importante num homem é o dinheiro que ele tem: experimentem chupar uma moeda de euro durante uma hora, verão que é ligeiramente menos saborosa que uma vida de privações...

3ª - gostei do novo jornal "i". Ainda que tenha falhas de grafismo (parecido com o The Guardian) e seja de direita e os jornalistas um bocado cagões.

4ª - o primeiro de Maio em Portugal, com a agressão ao Vital Moreira, não podia ter sido mais divertido. E digo divertido para não dizer nauseabundo que foi o único adjectivo que me veio à boca depois de ver os grandes debates sobre quem devia pedir desculpas a quem. (Mas, e os tipos, as pessoas, que agrediram, desapareceram como fumo?)

5ª - a nova lei de financiamento aprovada por todos os partidos, numa estranha unanimidade, por causa dos dinheiros que vêm da Festa do Avante para o PCP, cheira-me muito mal e acho que é ligeiramente obscena, agora pode entrar dinheiro vivo nos partidos vindo sabe-se lá de onde.

6ª - as eleições europeias com os seus candidatos previsíveis, os debates sobre a crise e coisas que tais raiam a mediocridade. Por todo o lado, seja na televisão ou nos jornais, políticos, comentadores, jornalistas, todos parecem infectados com a terrível doença do portuguesismo da pior espécie. Eu sei do que falo: sou português.




Pedro Marques @ 18:35

Qua, 28/01/09

Dizia-me uma amiga ao telefone: "Não sejas mauzinho, tu és mau, és mau." E eu, "porquê?" "Não se fala assim aos professores."

Ok, então temos todos de ficar calados enquanto eles dizem tudo o que querem sobre as coisas que estudamos. Devemos pensar que por muito que pensemos o contrário daquilo que eles dizem nos devemos abster de o dizer. Devemos falar o menos possível nas aulas, e depois, no fim da aula ir ter com o professor, chamá-lo à parte, e conversar na intimidade sobre aquilo que ele disse. A dissensão crítica deve ser guardada debaixo da cama,  como diz o Pinter, junto ao penico. Deve ficar em casa. E se não te puseres a pau enfiam-te a cabeça no penico.

Quanto mais calado estiveres, melhor, não interrompas o professor, não espirres que ele desconcentra-se, não interrompas que o desvias. Não sejas dadaísta. Como é que se pode dizer a uma pessoa para não ser aquilo que é?

Por isso, ouve. Ouve, escreve e depois vai para casa falar com as paredes, enfia-te no computador e nos livros a fazer um trabalho magnífico, porque as aulas não servem para falares sobre as coisas.

Até podia ser um bom programa, uma boa opção de vida, não fosse o caso de os professores apregoarem exactamente o contrário daquilo que praticam...




Pedro Marques @ 18:29

Seg, 19/01/09

Diz a data que hoje se deve comemorar o último dia de Bush à frente dos destinos dos E.U.A.

No dia 19 de Janeiro de 2009 vemo-nos finalmente livres do embuste, do imbecil, do vendido, do ignorante. Boa viagem! E que nunca mais volte, nem ele nem o filho, nem o gato nem o cão.

Eu vou comemorar com vodka em casa. Quem mais se quer juntar?




Pedro Marques @ 00:18

Qua, 14/01/09

Por uma vez estive tentado a falar de futebol aqui. Quando o Scolari foi castigado e eu pensava que a melhor pessoa para o substituir seria o Mourinho. Escrevi o texto, publiquei-o e ficou no post durante um dia, talvez, mas depois tirei-o porque achei que não era significativo. Hoje, devo dizer que sou obrigado a fazê-lo porque o Cristiano Ronaldo ganhou o prémio de melhor jogador de futebol do mundo, seja lá o que isso quer dizer.

Quero escrevê-lo e comemorá-lo da mesma maneira que ele o fez. Com orgulho e modéstia e regressando ao trabalho no dia seguinte, com convicção e confiança. Ele é o melhor, e a sua mestria na arte de trocar as voltas ao defesa, rematar de sítios impossíveis, dar o efeito 'x' à bola, não quer dizer que ele não seja humano, ele é, pelo contrário, a exaltação das extraordinárias faculdades do ser humano, e nesse sentido podia ser argentino, russo ou italiano.

É claro que gostamos disto porque ele nasceu na Madeira e cresceu no S.C.P. para o futebol. É um produto de Portugal e tem qualidade. Ora, o que é que isto tem a ver com a mediocridade aparente do nosso país? Exactamente. Nada. E foi por isso que decidi escrever o post. Para, por uma vez, não celebrar aquilo que há de mais embaraçante em Portugal e sim aquilo de que nos orgulhamos.

Pena é que não façamos também programas de televisão quando o Saramago ganha o nobel ou o Manuel de Oliveira é premiado e não saibamos dar importância a todos aqueles que como o Ronaldo são bons naquilo que fazem, todos os dias, e ganham significativamente menos que o puto maravilha.

A palavra dinheiro vem-me à cabeça, como argumento final para todos os assuntos, mas com a queda de credibilidade do mesmo, parece-me que vamos ter que começar a definir novos valores.




Pedro Marques @ 23:50

Ter, 13/01/09

Bebé nasce em Londres dois dias depois da mãe morrer.

 

in roda-pé da SIC Notícias, 13/1/08.




Pedro Marques @ 16:37

Qua, 31/12/08

2009 vai ser diferente. Vai ser definitivamente diferente. Todos os pensamentos impuros estão para trás, é o ano dos 40 anos. Faço 40 anos em 2009. Se calhar devia estar a enfrentar uma crise de identidade. Mas não. A crise de identidade é que me enfrenta a mim. Eu ando em crise de identidade há precisamente... 40 anos. É isso. Desde o princípio dos (meus) tempos até ao universal instante do agora que não sei quem sou. Não sei.

Posso definir prioridades, estabelecer um objectivo para a vida, mas não sei quem sou. Posso amar pessoas e odiá-las logo de seguida. Por nada. É uma condição essencial. Mudo a vida por tudo e por nada mas não sei quem sou. Sigo o meu caminho, intrépido, dedidido, mas não sei quem sou. E acho que nunca soube. Ou talvez tenha sabido. Nos recônditos recôncavos da minha infância. E mesmo aí...

Não me orgulho de muito que fiz - foi sempre verdadeiro. Não digo que tenha sido sempre com boa intenção. Mas, que sei eu do que é bom?

Amanhã é outro dia, outro ano - 2009.

O ano em que vamos continuar a ver mirrar este pequeno pedaço de terra a que chamamos Portugal. A ficar cada vez mais pequeno. Pequeno em intensidade, bem entendido. Vamos vê-lo ficar cada vez com menos brilho até às eleições, que serão um momento de euforia colectiva, regrada é certo, mas nem sempre sincera. Será o ano em que o país andará para a frente proque não tem mais nenhum sítio para onde ir. 

Não podemos ficar assim, contentes com o que temos, não podemos? E depois melhorar, apenas, mais um bocadinho, modestamente, sem pressas. Sem ansiedades.

Não podemos dar mais valor às pessoas que querem fazer coisas diferentes? Aos milhares de portugueses que pensam diferente não por serem do contra mas apenas porque estão acordados? Temos sempre de dar valor ao que é conhecido, à cunha, à superficialidade?

Não podemos tratar apenas da nossa vidinha (sem olhar para o umbigo) e esquecer todas as fugas absurdas e os medos infundados?

Não podemos, finalmente, tirar fora dos nossos ombros aquilo que nos oprime? Temos sempre de ser subservientes à ignorância e obtusidade?

Não podemos tentar falar as coisas, com veemência, sim, claro, mas também com dignidade? Podemos ter espinha dorsal? Hã? Portugal! Podemos lutar por aquilo em que acreditamos ou somos apenas um atavismo?

 

Sou um homem. Um náufrago depois da tempestade. Ainda me falta encontrar a ilha. A ilha de Próspero. Onde viverei com a minha filha e alguns espíritos. Até a vida me encontrar e levar a outra viagem. Desta vez sem regresso.




Pedro Marques @ 14:45

Qua, 31/12/08

Queria desejar votos de um bom ano para todos os que aqui vêm. Quero que saibam que o Fora de Cena está sempre pronto para receber as vossas sugestões, críticas, pensamentos estranhos, ideias em geral.

 

Por mim, espero que o ano de 2009 seja melhor que o de 2008. Pior será difícil. Um relacionamento terminado, que levou vários meses a concluir. Muitas mágoas, muitos ressentimentos, muitas mentiras, um espectáculo de teatro que apesar de ter corrido bem a nível artístico, correu mal a nível pessoal - os seres humanos metem dó.

Novos horizontes se abrem. Tenho a intenção de escrever uma peça de teatro. Não digo sobre o quê. É surpresa. Fazer entrevistas para começar a escrever um romance de carácter autobiográfico, terminar o ano com notas razoáveis e criar um clube de leitura. Onde? Sabe-se lá. Onde houver dinheiro. Porque ele começa a escassear. As compras de Natal fizeram moça no orçamento.

Tirando todas as coisas más, só há coisas boas. Tirando a mentira e o caos só há a verdade e a persistência. Tirando a traição só há a fidelidade. Essas são as coisas boas da vida: J. Amado, A. Camus, W. Shakespeare, F. Dostoiévski, A. Tchékov, F. Zappa, M. Davis, W. Marsalis, Caravaggio, E. Hopper, a monumentalidade do passado e a possibilidade do futuro, as crianças em geral, os animais à distância e os seres humanos com todas as suas capacidades para serem belos.

Tirando as coisas boas (e quando digo boas digo puras) da vida, não há nada em mais lado nenhum. Nada. Nem em Moscovo nem em Roma. Nem em Bagdad, nem na Faixa de Gaza. Nem em Nova Iorque ou Nova Deli. Nada. O que há para saber está ao alcance dos nossos dedos e não vale a pena ficar a chorar sobre o leite derramado - principalmente quando sabemos que o leite estava azedo, fora de prazo.

A única solução é andar para a frente, esquecer as boas festas e os votos de simpatia, os parabéns e as hipocrisias, prosseguir, ignorar e continuar. Com uma mão no coração e a outra estendida para o que há-de vir.