Escrevo este manifesto para demonstrar que se podem realizar acções opostas, ao mesmo tempo, num único e fresco movimento. Sou contra a acção; e em relação à contradição conceptual, e à sua afirmação também, não sou contra nem a favor.



Pedro Marques @ 21:41

Qui, 25/09/08

Um navio chega tarde demais
Para salvar uma bruxa que se afoga
Ela veio a nadar
Para um encontro
Com um Marinheiro Mercante
Que lhe disse que era muita rico

Mas isso já não interessa
Ela jaz no fundo do oceano
E lá em baixo a água é toda verde
E lá em baixo aquilo não é muito limpo
E as cobras d'água
E os destroços ferrugentos
É tudo o que ela pode ver
À medida que a luz fenece
E ela tenta nadar
Irá conseguir?
(Epá, esperemos que sim...)

Uma bruxa não devia ser apanhada
No fundo dos canais cheios de vomitado
Da América, é-é...
Ela pode ficar cheia de radiação
Pode transmutar-se insanamente
Pode transmutar-se insanamente
(exactamente)

Tás a ver, ela pode ir parar a uma auto-estrada e ter 4 metros e meio de altura
E ser muita feia
E depois...
Os carros chocavam por todos os lados
Porque as pessoas com camisas havaianas
Olhavam para a cara dela

Sardinhas nas sobrancelhas
Lagostas para cima e para baixo na testa
Todas HORRIVELMENTE GRANDES POR CAUSA DA RADIAÇÃO
E a cheirarem muito mal
E PERIGOSAS

Talvez um submarino a possa salvar
E trazê-la à Marinha...
Para uma espécie de
U-u-u-ah-ah
Ah-u-u-u-u-u
Ah-u-ah
Sacrifício ritual

SHIP ARRIVING TOO LATE TO SAVE A DROWNING WITCH. Drowning Witch.
There's a ship arriving too late / To save a drowning witch / She was swimmin' along / Tryin' to keep a date / With a Merchant Marine / Who told her he was really rich // But it doesn't matter no more... / She's on the ocean floor / 'N the water's all green down there / 'N it's not very clean down there / 'N water snakes / 'N rusty wrecks / Is all that she can see / As the light goes dim / And she's tryin' to swim / Will she make it? / (Boy, we sure hope so...) // Not even a witch oughta be caught / On the bottom of America's spew-infested / Waterways, hey-hey... / She could get radiation all over her / She could mutate insanely... / She could mutate insanely... / (that's right) // You know, she could go on the freeway and grow up to be 15 feet tall / And scary-lookin' / And then... / Cars could crash all over the place / As a result of people with Hawaiian shirts on... / Lookin' up to see her face // Sardines in her eyebrows... / Lobsters up 'n down her forehead / All of them HORRIBLY LARGE FROM RADIATION... / And smelling very bad / And DANGEROUS! // Maybe a submarine could save her, / And bring her home to the Navy... / For some kind of / Oo-oo-oo-ah ah / Ah-oo-oo oo-oo-oo / Ah-oo-ahhh
/ Ritual sacrifice...

Frank Zappa, 1982.

 




Pedro Marques @ 02:33

Seg, 15/09/08

Ela tinha aquele
Brilho Amarelho
Flamejante na cabeça
Quer dizer aqueles gases de Mendocino
Vermelhos por causa dos vermes

Reinava os Sapos da Floresta Baixa
E todas as corujas do Idaho
E os grilos todos que cantaram
Junto ao arbusto em Buffalo

Disse que era
Uma Mãe Mágica
E me podia lançar um tarot maléfico
E prosseguiu sem hesitar
Dizia que era alguém que eu devia conhecer

Tinha uma cobra como animal de estimação
E um amuleto
E alimentava um anão
Mas ainda não estava satisfeita
Tinha pele cinzenta esverdeada
Uma boneca com um alfinete
Disse-lhe que ela era fixe
Mas não podia entrar
(Nessa altura eu não podia entrar...)

E depois vagueou
Através da porta
Como uma sombra vinda da tumba
Disse que a aparelhagem era quadrifónica
E eu amei-a no seu quarto

Bem, eu nasci
Para a aventura
Subi os degraus por isso
Passei ao lado do fedorento incenso
E fui ao sítio onde pendurava as castanholas

Despiu
O poncho andrajoso
E deitou-se nua junto à porta
Fizemo-lo até ficarmos inconchient's
Não havia mais nada a fazer

Tinha uma cobra como animal de estimação
E um amuleto
E alimentava um anão
Mas ainda não estava satisfeita
Tinha pele cinzenta esverdeada
Uma boneca com um alfinete
Disse-lhe que ela era fixe
Mas não podia entrar
(para falar a sério, nessa altura, eu estava muito ocupado)

E depois vagueou
Através da porta
Como uma sombra vinda da tumba
Disse que a aparelhagem era quadrifónica
E eu amei-a no seu quarto

Bem, eu nasci
Para a aventura
Subi os degraus por isso
Passei ao lado do fedorento incenso
E fui ao sítio onde pendurava as castanholas

Disse que era
Uma Mãe Mágica
E me podia lançar um tarot maléfico
E prosseguiu sem hesitar
Dizia que era alguém que eu devia conhecer

(Isso é um poncho verdadeiro... quero dizer
É um poncho mexicano ou é da Sears?
Hmmm... não me digas...)

 

OVERNITE SENSATION. Camarillo Brillo. She had that / Camarillo brillo / Flamin' out along her head, / I mean her Mendocino bean-o / By where some bugs had made it red // She ruled the Toads of the Short Forest / And every newt in Idaho / And every cricket who had chorused / By the bush in Buffalo // She said she was / A Magic Mama / And she could throw a mean Tarot / And carried on without a comma / That she was someone I should know // She had a snake for a pet / And an amulet / And she was breeding a dwarf / But she wasn't done yet / She had gray-green skin / A doll with a pin / I told her she was awright / But I couldn't come in / (I couldn't come in right then...) // And so she wandered / Through the door-way / Just like a shadow from the tomb / She said her stereo was four-way / An' I'd just love it in her room // Well, I was born / To have adventure / So I just followed up the steps / Right past her fuming incense stencher / To where she hung her castanet // She stripped away / Her rancid poncho / An' laid out naked by the door / We did it till we were un-concho / An' it was useless any more // She had a snake for a pet / And an amulet / And she was breeding a dwarf / But she wasn't done yet / She had gray-green skin / A doll with a pin / I told her she was awright / But I couldn't come in / (actually, I was very busy then) // And so she wandered / Through the door-way / Just like a shadow from the tomb / She said her stereo was four-way / An' I'd just love it in her room // Well, I was born / To have adventure / So I just followed up the steps / Right past her fuming incense stencher / To where she hung her castanets // She said she was / A Magic Mama / And she could throw a mean Tarot / And carried on without a comma / That she was someone I should know // (Is that a real poncho . . . I mean / Is that a Mexican poncho or is that a Sears poncho? / Hmmm . . . no foolin' . . . )

Frank Zappa, 1973.




Pedro Marques @ 16:39

Dom, 31/08/08

(Aperta aí como deve ser!
Sabes, o bolinho dos presidiários* é mesmo muita bom
Ei, devias provar!)


As mentiras deles são tão grandes

Não fazem barulho nenhum

E dizem-nas tão bem

Parece uma doença secreta

Que vos insensibiliza

Com uma boa mentira das antigas

Uma bandeira e um bolo

Uma mãe e uma bíblia

A maioria do pessoal só quer é
Comprar qualquer coisa

Em qualquer lado e a qualquer altura

Quando a mentira é tão grande

Como no caso do Robertson,

(Aquele rosto sinistro
Por trás daqueles hurrás todos a Jesus)

Pode acontecer que no final de tudo

Por uma tendência preocupante

Cada americano

Não "renascido"

Possa ser punido de modo cruel e especial

Por este
ignóbil cretino
Que diz a todos

Que é o melhor amigo de Jesus


Quando as mentiras são tão grandes

O nevoeiro tão espesso

E
se esquecem os factos
O Truque Republicano
Pode ser
representado outra vez
Malta digam-me por favor quando

É que nos vemos livres destes senhores!


Mas quem é que eles

Pensam que são?

E como é que conseguiram chegar tão longe
Como parece que chegaram?

Somos assim tão estúpidos?


Pessoas acordem

Vejam

Fanáticos religiosos

Por todo o lado

No Tribunal, no Governo Civil

No Congresso, na Casa Branca

Santos criminosos

Com uma 'Celestial
Missão'
Uma nação arrebatada

Por pura superstição

Vocês acreditam no Exército invisível?

(Sim, claro!)

Quando a mentira é tão grande

O nevoeiro tão espesso
E se esquecem
os factos
O Truque Republicano
(O ketchup é um vegetal!)
Pode ser representado
outra vez
Malta digam-me por favor quando
É que nos vemos livres destes senhores!


BROADWAY THE HARD WAY - When The Lie's So Big. (Pinch it good! / You know, that confinement loaf* is real good stuff / Hey, you oughta try some!) // They got lies so big / They don't make a noise / They tell 'em so well / Like a secret disease / That makes you go numb // With a big ol' lie / And a flag and a pie / And a mom and a bible / Most folks are just liable / To buy any line / Any place, any time // When the lie's so big / As in Robertson's case, / (That sinister face / Behind all the Jesus hurrah) // Could result in the end / To a worrisome trend / In which every American / Not "born again" / Could be punished in cruel and unusual ways / By this treacherous cretin / Who tells everyone / That he's Jesus' best friend // When the lies get so big / And the fog gets so thick / And the facts disappear / The Republican Trick / Can be played out again / People, please tell me when / We'll be rid of these men! // Just who do they really / Suppose that they are? / And how do they manage to travel as far / As they seem to have come? / Were we really that dumb? // People, wake up / Figure it out / Religious fanatics / Around and about / The Court House, The State House, / The Congress, The White House // Criminal saints / With a "Heavenly Mission" -- / A nation enraptured / By pure superstition // Do you believe in the Invisible Army? / (Yes, indeed!) // When the lie's so big / And the fog so thick / And the facts kept forgotten / Then the Republican Trick / (Ketchup is a vegetable!) / Can be played out again / People, please tell me when / We'll be rid of these men!

Frank Zappa, 1988.

* "bolo" servido no sistema prisional americano que acalmava os condenados "problemáticos" através da ingestão de ingredientes como salitre.



Pedro Marques @ 16:36

Sex, 15/08/08

Ok. O objectivo é ir compilando, canção a canção, as letras dos discos de Frank Zappa traduzidas para português. Não sei para quê, nem porquê. Mas é como o mestre diz: anything anywhere for no reason at all.
É só uma maneira, acho, de partilhar a continuação do meu trabalho de divulgação da obra de Frank Zappa.
Espero também que contribuam com as vossas sugestões. Novas versões da tradução, pensamentos sobre o poema ou a música da particular canção também são bem vindos. Desenhos, vídeos. Qualquer coisa em qualquer sítio por nenhum motivo. Sugestões para a tradução de músicas. Etc.

 



1. Freaks Esfomeados, Mamã

Dona América
Dá uma volta
Pelas escolas que não ensinam
Dona América

Dá uma volta
Pelos espíritos que nunca atingirás
Dona América

Tenta esconder
O nada que és por dentro
Quando descobrires que o modo como mentiste
E todos os esquemas fajutos que tentaste
Não irão impedir a maré alta de
Freaks esfomeados, Mamã...

Não vão apoiar mais
Eles
Os grandiosos armazéns de ferragens no Oeste
É uma filosofia que se opõe
Àqueles que não têm medo de dizer
O que lhes vai na cabeça
(Os deserdados da Grande Sociedade)

Freaks esfomeados, Mamã...

Dona América
Dá uma volta
Pelo sonho do consumo
Dona América

Dá uma volta
Pelas melhores lojas de venda de álcool
Dona América

Tenta esconder
O produto do teu orgulho selvagem
Os espíritos úteis que ele negou
Quando encolheste os ombros e te puseste à parte
Quando lhes viste as roupas e depois gritaste:
SÃO OS FREAKS ESFOMEADOS, MAMÃ!

Não vão apoiar mais
Eles
Os grandiosos armazéns de ferragens no Oeste
É uma filosofia que se opõe
Àqueles que não têm medo de dizer
O que lhes vai na cabeça
(Os deserdados da Grande Sociedade)

FREAK OUT! - Hungry Freaks Daddy. Mister America / Walk on by / Your schools that do not teach / Mister America / Walk on by / The minds that won't be reached / Mister America / Try to hide / The emptiness that's you inside / When once you find that the way you lied / And all the corny tricks you tried / Will not forestall the rising tide of / Hungry freaks, Daddy... // They won't go / For no more / Great mid-western hardware store / Philosophy that turns away / From those who aren't afraid to say / What's on their minds / (The left-behinds of the Great Society) // Hungry freaks, Daddy... // Mister America / Walk on by / Your supermarket dream / Mister America / Walk on by / The liquor store supreme / Mister America / Try to hide / The product of your savage pride / The useful minds that it denied / The day you shrugged and stepped aside / You saw their clothes and then you cried: / THOSE HUNGRY FREAKS, DADDY! // They won't go / For no more / Great mid-western hardware store / Philosophy that turns away / From those who aren't afraid to say / What's on their minds / (The left-behinds of the Great Society)

Frank Zappa, 1965




Pedro Marques @ 18:58

Sab, 19/01/08

A liberdade está a passar por aqui.
Em Berlim.
A paisagem da fotografia não é mais interessante que a Zona J em Chelas, na nossa Lisboa-a-Velha, mas pelo menos o nome da rua é apelativo.
Depois das estátuas, dos bustos e dos asteróides, eis agora uma terrena e bem palpável rua dedicada ao grande compositor norte-americano.
Até podia viver lá, não fosse o frio...



Pedro Marques @ 19:17

Sex, 12/10/07

Finalmente chegou o novo disco dos Radiohead. Eu já admirava a música deles, o bom-gosto, a seriedade, a voz do Tom Yorke, três discos imaculados - Ok Computer; Kid A; Amnesiac. Agora gosto mais deles porque fizeram um disco na mesma veia, sem pretensões, com a mesma pesquisa de novas combinações de sons, a mesma sobriedade e poesia - In Rainbows - e também porque o puseram à venda na net de um modo que desafia as editoras sugadoras de dinheiro e tenta estabelecer um novo paradigma para o modo como os músicos/compositores se relacionam com o seu público. Não é uma ideia inédita, deve dizer-se, Frank Zappa (quem mais podia ser senão ele - depois de todas as batalhas que manteve com a Warner Brothers nos anos 70) tinha um projecto que descreve no The Real Frank Zappa Book (1988!) que se assemelha à internet:
PROPOSTA PARA UM SISTEMA QUE SUBSTITUA O COMÉRCIO DE DISCOS DE VINIL
O comércio normal de discos de vinil, tal como hoje existe, é um processo estúpido que consiste, fundamentalmente, no transporte de pedaços de plástico embrulhados em pedaços de cartão, de um sítio para o outro.
(...)
OS CONSUMIDORES DE MÚSICA GOSTAM DE CONSUMIR MÚSICA... E NÃO ESPECIFICAMENTE O ARTEFACTO DE VINIL EMBRULHADO EM CARTÃO.
A nossa proposta visa tirar vantagens dos aspectos positivos da tendência negativa que atinge a indústria de gravação actual: gravações caseiras de material lançado em vinil.
Primeiro que tudo, temos de nos aperceber que a gravação de álbuns não é necessariamente motivada pela 'mesquinhez' do consumidor. Se uma pessoa faz uma gravação caseira de um disco, essa cópia poderá ser melhor que uma cassete gravada em alta velocidade e lançada legitimamente pela editora.
..............................................................................................................................................
Propomo-nos adquirir os direitos de duplicação digital dos MELHORES de cada editora discográfica, Quality Catalog Items [Q.C.I.], armazená-los numa central de processamento e tê-los acessíveis via telefone ou por TV cabo, directamente ligados a aparelhos caseiros dos utilizadores, com a opção de transferência directa digital-para-digital, para o F-1 (Codificador Caseiro da Sony de Gravação Digital), Beta Hi-Fi ou cassete analógica normal (precisando neste caso de um conversor Digital-Analógico no telefone... o circuito electrónico principal custa cerca de 12 dólares).
Estando tudo contabilizado pagamentos de direitos de autor, conta do consumidor, etc., e seria automático, construído pelo software para o sistema.
O consumidor tinha a opção de subscrever uma ou mais 'categorias de interesse especial,' cobradas mensalmente, NÃO TENDO EM CONTA A QUANTIDADE DE MÚSICA QUE O CLIENTE DESEJA GRAVAR.
Proporcionar material nesta quantidade a um preço reduzido poderia mesmo diminuir o desejo de duplicação e armazenamento, pois estaria à disposição dia e noite.
Poderiam ser fornecidos catálogos mensais, reduzindo assim o armazenamento efectivo do computador. Todo o serviço seria acessível via telefone, mesmo que a recepção local seja via TV cabo.
Uma vantagem da TV cabo é: naqueles canais onde parece não acontecer nada (há cerca de setenta em Los Angeles), uma imagem da capa original, mais as letras das canções, informação técnica, etc., poderia ser transmitida enquanto a transmissão estivesse a decorrer, dando ao projecto uma lufada electrónica do original "motivo de compra" do álbum, quando este era 'álbum,' é que há muitos consumidores que gostam de endeusar & acarinhar a embalagem enquanto a música toca.
Nesta situação seria fornecido o [F.F.P.] Fondlement & Fetichism Potential, sem o custo de transporte de toneladas de cartão.
Maior parte dos dispositivos para o hardware estão neste momento à disposição em avulso, à espera de serem ligados uns aos outros para acabarem com o comércio discográfico tal como o conhecemos.
E esta hã?! Quem diria que vinte anos depois esse sistema não só seria implementado como melhorado? Realmente Frank Zappa não estava só à frente em termos de música como de dialéctica, produção e tecnologia.
Isto para dizer que os Radiohead possuem a mesma coragem, um interesse pelas artes e a música em particular que vai muito para além do acto de fazer e gravar música. A preocupação deles parece abranger várias áreas.
Quanto ao disco, In Rainbows: parece ser um seguidor de Amnesiac. Hail to the Thief parece ter sido mesmo um disco para cumprir as obrigações que eles tinham para com a sua editora - o cuidado posto nas composições não é o mesmo. Em In Rainbows a banda está mais coesa e empenhada do que no álbum precedente, os temas são variados, menos electrónicos do que em Kid A, mas menos acústicos do que em Ok Computer ou The Bends. Há um novo som a ser definido e descoberto.
Vale mesmo a pena ter o disco. Seja como for.