Uma das personagens do filme de hoje dizia, "não há nada mais bonito na vida do que cumprir uma promessa." E, como era uma comédia, o último desvario de Emir Kusturica, a promessa era finalmente cumprida e o realizador podia pôr no fim a frase "happy end" em vez do "the end".
É mais um filme louco do realizador sérvio, na veia de
Gato Preto, Gato Branco, com casamentos simultâneos, balas humanas voadoras, engenhocas, mafiosos, vacas e bandas de música. Neste universo de Kusturica nada é real apenas.
O universo é único e cruza as fronteiras do verosímil como nos filmes de animação. As vacas ainda irrompem pelas janelas tal como os elefantes o fizeram um dia no magnífico
Underground, as galinhas são fodidas literalmente e os javalis temidos pelo mesmo atributo. Os animais e os humanos nunca estiveram tão ligados.
Mas em Kusturica este universo convive lado a lado com a poesia dos sentimentos. Belíssimo o momento em que o avô lega ao neto o seu testamento enquanto o miúdo nada por entre maçãs. A construção do sino e a cena em que os dois futuros noivos estão pendurados cada um do seu lado da corda e pendulam como duas crianças no recreio.
As mulheres sonham com carros belos, vistosos, deleitam-se com as juras de amor dos homens, são velhacas muitas vezes, quando em velhas, e sobretudo se são mães. As personagens cumprem ou não as suas promessas, desfazem-se aos nossos olhos ou dignificam-se, mas nenhuma fica sem ser ternamente condenada pelo nosso olhar. Uma comédia de Kusturica é sempre disparatada, mas nunca deixa de nos moralizar. E não digo isto no sentido pejorativo a que a palavra 'moral' hoje em dia está condenada. Se não houvesse moral não se fazia arte. As pessoas confundem muita vezes 'moral' com 'propaganda'. Nos filmes de Kusturica não há propaganda.
É claro que o avô chora com o hino soviético cantado às três atletas russas que por sua vez também choram, na televisão, a nostalgia de dias melhores ainda está presente, o ícone sagrado também chorará, tal como o neto dele. Chorar é uma maneira de dar sentido à vida e não uma comiseração.
Chorar é o que me apetece fazer agora. Quando cheguei à estação de S. Pedro do Estoril, para além de uma valente cabeçada na merda de um ferro que agoram puseram mesmo no meio do apeadeiro da estação, mesmo à saída do comboio, tinham-me roubado a minha querida bicicleta. Estou furioso.
Onde quer que estejas, ó tu que me roubaste a bicicleta, espero que caias algum dia dela ou que ta roubem como me fizeste a mim. Bom proveito palhaço cobarde.