Escrevo este manifesto para demonstrar que se podem realizar acções opostas, ao mesmo tempo, num único e fresco movimento. Sou contra a acção; e em relação à contradição conceptual, e à sua afirmação também, não sou contra nem a favor.


Pedro Marques @ 01:07

Qui, 25/09/08

Hoje vi em directo o debate quinzenal na Assembleia da República e mais uma vez assisti a mais do mesmo. Em relação à polémica do casamento entre pessoas do mesmo sexo, o primeiro-ministro disse que esse assunto não faz parte do programa do governo e que não andará a reboque das propostas de outros partidos. E mais não acrescentou. E eu pergunto-me: para que é que os homossexuais se querem casar? Querem assim tanto fazer parte de um estilo de vida heterossexual do qual fugiram...? Querem casar pela igreja ou estão apenas atrás dos privilégios atribuídos às pessoas que se casam? Expliquem-me, por favor, porque não percebo a reivindicação...
Esta tarde, tive mais uma vez a oportunidade de assistir à obtusidade dos argumentos tanto à esquerda como à direita do governo. É espantosa a capacidade que os políticos têm para ignorar o que é mais importante. Não há um único partido que saiba fazer propostas, tentando melhorar as do governo, a palavra "oposição" é vista não como o outro lado da barricada mas sim como "contradição". À direita, o CDS preocupa-se com a segurança e com o número de polícias nas ruas e nem mesmo a apresentação de argumentos do primeiro-ministro com números do Eurostat demoveu a teimosia do Paulo Portas. À esquerda, o PCP preocupa-se com os trabalhadores (mas que falta de perspectivas!), e o poder de compra e o BE com a economia (ou não fosse Francisco Louçã um eminente professor de economia). Esgrimem números e moralismos mas ninguém consegue encontrar-se numa única proposta - é inacreditável, se um extra-terrestre estivesse nas bancadas hoje pensava que se tratava de pessoas de países diferentes...
O que é certo é que a credibilidade do governo não sai beliscada, e não por o governo ser exemplar (longe disso), mas simplesmente porque a oposição não sabe o que fazer. É assustador verificar que se algum dia o governo meter os pés pelas mãos a sério a oposição não vai convencer ninguém do mesmo. É como a história do Pedro e do Lobo, tantas vezes gritam "ó da guarda!" que quando for verdade ninguém vai acreditar. O que vale é que quando o governo fizer merda a sério ela vai cheirar tão mal que ninguém vai precisar da oposição para nos dizer em quem não devemos votar.
Fiquei contente por ouvir o primeiro-ministro dizer que o governo aposta inequivocamente na educação, quer em termos de meios, quer de dinheiro, quer em ideias (o computador magalhães é prova disso). Embora haja pessoas que conseguem encontrar alguma coisa de mal neste projecto do primeiro computador pensado em Portugal, penso que a medida é tão abrangente e importante que mesmo a oposição chegará à conclusão que mais vale ficar calada, porque toda a polémica à volta do controlo parental ou da proveniência dos processadores só dá mais propaganda ao projecto. É bom saber que daqui a alguns anos estas crianças que agora recebem computadores terão todo o conhecimento necessário para fazer o país andar para frente. Por essa altura já terão morrido muitos dos portugueses que hoje em dia atravancam o país com a sua arterioesclerose precoce.
Chamem-me ingénuo, crente, ou simplesmente imbecil, mas até prova em contrário este governo é o melhor que tivemos desde o 25 de Abril.

PS: Exceptuando, é claro, os governos II, III, IV e V provisórios, com Vasco Gonçalves como primeiro-ministro e que nacionalizaram a banca, a indústria, deram o décimo-terceiro mês a todos os trabalhadores, instituíram o ordenado mínimo e outros direitos com vista à formação de uma sociedade socialista.
Para a posteridade fica a frase denodada no famoso Verão quente de 1975: "Ou se é pela revolução ou se é pela reacção! Não há cá terceiras vias..."
O mesmo diria eu do nosso país agora...

* Isto não quer dizer que vá votar PS nas legislativas.


Marco @ 01:55

Qui, 25/09/08

 

Muito, muito bom este post, Pedro.
A propósito desta ridícula polémica com o portátil Magalhães, este continua a ser um país de pirilampos mágicos: por um lado, inventamos nobres expedientes para resolver problemas que são, em primeiro lugar, da responsabilidade do Estado. Trocamos a solidariedade pela caridade e ficamos depois a olhar para o lado como se não fosse nada connosco.
Por outro, exigimos ao Estado que eduque os nossos filhos por nós.
Não tenho a mínima dúvida de que infelizmente é esta mentalidade que está na base de grande parte das críticas a propósito do software de controlo parental desactivado no Magalhães.

Anonimoso covardosamente @ 14:19

Qui, 25/09/08

 

"Chamem-me ingénuo,(...)": Ingénuo!