Escrevo este manifesto para demonstrar que se podem realizar acções opostas, ao mesmo tempo, num único e fresco movimento. Sou contra a acção; e em relação à contradição conceptual, e à sua afirmação também, não sou contra nem a favor.


Pedro Marques @ 12:15

Qua, 19/01/11

Aproximam-se as eleições presidenciais e eu começo a ficar nervoso com a perspectiva de Cavaco Silva as ganhar outra vez. Uma das coisas que me entristece mais em Portugal é a ignorância e a falta de horizontes que leva pessoas ditas "normais" a votar nesse político que representa grande parte das coisas más que aconteceram a este país nos últimos vinte anos.

Cavaco, já se disse aqui neste blog, foi primeiro-ministro no final dos anos 80 princípios dos anos 90, numa altura em que o país foi inundado com dinheiro dos fundos estruturais da antiga CEE, investimentos de todos os países industrializados do Norte da Europa que viam o Sul como sempre viram: uma oportunidade para fazer mais dinheiro. E foi isso que aconteceu. Com as perspectivas de um futuro melhor, com carros última geração, as estradas, a desregrada construção imobiliária ligada ao turismo, os portugueses precipitaram-se a comprar aquilo para o qual não tinham dinheiro, endividando-se ao resto da Europa, ano após ano até ao descalabro financeiro. É neste momento que nos encontramos. Pensem bem, se toda a gente praticamente tem um carro comprou-o aos nossos vizinhos: à Alemanha, à Itália, à França, à Inglaterra e talvez ao Japão. Nós devemos esse dinheiro a esses países porque a nossa ganância, o nosso sentimento pequeno-burguês de querer subir na vida nos levou a fazer coisas para as quais não estávamos preparados. Há mais de vinte anos que tenho este discurso...

Cavaco é responsável por uma política de ruína do nosso país. As pessoas dizem que o país cresceu quando ele estava no poder. Sem dúvida. Cresceu mas à custa dos rios de dinheiro que foram canalizados para Portugal. Ele encarregou-se de destruir o nosso tecido produtivo (já débil, sem dúvida), desmantelando a indústria, negociando quotas de pesca que obrigavam pescadores a viver de subsídios, quotas agrícolas que obrigavam agricultores a terem de fazer o mesmo, enquanto compravam jipes, construiu estradas que eram precisas, sem dúvida, mas fechou centenas de quilómetros de linha férrea (mais barata, mais amiga do ambiente e menos lucrativa, claro, porque já existia). Foi isto que Cavaco fez.

Cavaco é um economista, um homem que não quer afrontar os nossos possíveis compradores de dívida. É um homem do stablishment tal como nós o abominamos. É um homem ligado ao dinheiro e apenas ao dinheiro. O seu polémico investimento no BPN em que ganhou milhares de euros não é insultuoso pelo dinheiro que lucrou mas sim pela posição de que se aproveitou para o fazer e diz muito do estilo de vida de uma pessoa que faz dinheiro com dinheiro (e que sem dúvida que está de acordo com o país que ele sempre quis). Fazer dinheiro com dinheiro não está ao alcance de todos os portugueses como ele disse ao ser entrevistado, nem toda a gente tem 100.000 euros para investir em aplicações. E o mesmo se pode dizer do país. Que dinheiro vai investir um país se estiver endividado? Cavaco pôs Portugal a viver num sistema para o qual não estava nem nunca esteve preparado, pelo simples facto de que não tinha dinheiro para investir. Cavaco fez aquilo que os países da Europa queriam, jogou o jogo deles, claro, como um belo aluno, ele chegou a ser elogiado pelos dirigentes europeus, ele nunca defendeu os superiores interesses do país tal como agora apregoa. Com ele, a capacidade de Portugal era apenas a de se endividar. E foi isso que aconteceu.

Cavaco é um embuste e agora prepara-se para parasitar a presidência da República por mais 5 anos. É tempo de dizer chega. Eu direi. Espero que mais de cinquenta por cento dos portugueses também o digam.


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