Estava com alguma curiosidade para ver a entrevista de Constança Cunha e Sá a José Sócrates na TVI, hoje. Não por causa da entrevistadora, claro, mas por causa da "situação especial" que o país vive.
Mais uma vez, aquilo que vi foi uma jornalista que se limitou a fazer umas perguntas de algibeira, baseadas em factos empolados pelos meios de comunicação, observações com alguns números sobre os quais diz que "é fácil fazer as contas" (que audácia!), umas polémicas que se suspeitam serem sopradas aos seus ouvidos por pessoas muito próximas de Paulo Portas, etc. Até as perguntas são formuladas como seriam no Parlamento, com aquela arrogância e distanciamento de quem não é do governo nem do PS. Só que esta excelsa jornalista se esquece que está a entrevistar o Primeiro-Ministro do seu país, uma pessoa que deve ser confrontada realmente com as medidas que toma e que as deve explicar o mais claro possível e não deve deixar-se levar por distracções. Não podemos ficar à espera que rapidamente Constança Cunha e Sá suspeite que o PM está a mentir e tente entrar em conversa com ele. Isso, não só é uma péssima maneira de conduzir uma entrevista, como, no caso, é de uma insolência absolutamente indesculpável para jornalistas deste gabarito.
Quanto às medidas do governo. Perfeitamente claras. As medidas de austeridade vão servir para acalmar os mercados. Garantir que a despesa pública vai baixar parece que acalma a voragem implacável dos crocodilos financeiros. Até aqui o governo tentou perceber se as medidas que tomava, medidas que não tinham o carácter áustero como estas, tinham reflexos na economia. Chegaram à conclusão que sim. O país cresce mais do que a média europeia, mas isso parece que não é muito bom para quem quer retalhar o país economicamente e olha para as grandes empresas estatais, que são monopólios, como empresas a serem colonizadas pelo capital financeiro "global". Qualquer outro governo (um do PSD ou do CDS, por exemplo) teria vendido rapidamente as jóias da coroa tal como no passado o fizeram Ministro das Finanças como Ferreira Leite e outros que tais.
No fundo, foi mais do mesmo. Um PM crispado, com a sensação de que para falar aos portugueses tem de passar por cima do muro da desinformação que são os meios de comunicação portugueses actuais.
Numa altura em que da esquerda à direita, toda a gente "bate" no PM, gostava de reiterar aqui a minha afirmação de sempre: José Sócrates é o melhor PM de Portugal desde que entrámos para CEE. Não é grande coisa. É um político liberal com laivos de esquerdismo na carinho que nutre pelo Estado Social. Mas não é um revolucionário, não é um visionário, não tem os tomates que devia ter, nem sequer é socialista. Mas acompanho há algum tempo a sua governação e percebo sempre todos os seus pontos de vista.
Mas talvez seja só eu que não me deixo entoxicar pelos meios de comunicação e os vejo com o mesmo desprezo com que eles atacam o governo, apenas porque é o "governo". Digo isto, de consciência tranquila porque a minha opinião não é suspeita: não voto PS, nunca votei, nem vou votar PS. E voto...