Escrevo este manifesto para demonstrar que se podem realizar acções opostas, ao mesmo tempo, num único e fresco movimento. Sou contra a acção; e em relação à contradição conceptual, e à sua afirmação também, não sou contra nem a favor.


Pedro Marques @ 13:45

Qua, 05/05/10

Imaginem-se numa qualquer noite há alguns milhares de anos atrás, naquela noite precisamente em que pela primeira vez se pintaram os acontecimentos de uma caçada. – A emboscada, o animal morto, as armas da caça, a chegada a casa. Imaginem o fascínio de todos a olhar para os traços negros de carvão riscados na pedra. Pensem no que devem ter eles sonhado nessa noite.

Eles tinham aprendido a representar-se. A ver-se de fora.

Tal como Deus.

O teatro é aquilo que Deus nos deixa para fazer.

Fazer de nós.

Primeiro fizemo-lo falado e cantado e dançado.

Depois, escrito.

Realmente, é aqui que começa a nossa história.

No séc. V antes de cristo.

Ésquilo, o primeiro dos dramaturgos.

Depois, Sófocles – Rei Édipo, Eurípides. Aristófanes, das comédias.

Durante um século.

Depois tivemos as comédias romanas, as tragédias romanas não eram representadas. Aborreciam o público.

Depois, silêncio.

As constantes guerras e pestes da idade média não deixavam as pessoas pensarem nelas próprias.

Era Deus que mandava. O teatro era feito à margem da sociedade.

Mesmo assim sobreviveu.

E foi reconhecido. Pelo poder.

No séc xv, Maquiavel inaugura o teatro moderno. A Mandrágora é a vitória da inteligência sobre a credulidade, a burrice, o caduco.

Desse gesto de que muitos já partilhavam, nasce uma nova maneira de fazer teatro.

A intriga, a surpresa, a maquinação, o artifício, começam a fazer parte do vocabulário do teatro. O engano começa a ser admitido, glorificado.

O teatro passa a ser manifestação da liberdade do homem.

Ter a liberdade de ver o mundo tal como ele é.

Em Portugal é Gil Vicente que fixa primeiro esse mundo da farsa.

Teatro da Corte. Teatro do poder.

Cervantes, Calderon de la Barca.

Depois, Shakespeare. Rei Lear.

Em Itália, Goldoni.

O teatro como mercadoria. Burguesia.

Em França, Moliére, Pierre Corneille.

Teatro barroco. Teatro dentro do teatro.

Marionetas em Portugal.

Depois, vazio.

Até ao teatro naturalista de Ibsen, Tchékhov – Três Irmãs, Strindberg.

O teatro político de Odon Von Orvath – Histórias do Bosque de Viena.

O teatro épico e didáctico de Bertolt Brecht.

A segunda guerra-mundial.

A morte das ideologias.

Existencialismo – Jean- Paul Sartre, Albert Camus.

Depois, Samuel Beckett, Dias Felizes, a condição humana.

Harold Pinter, o teatro do medo.

George Devine funda em Inglaterra, o Royal Court Theatre.

Um teatro dedicado a dramaturgos.

Até aos dias de hoje:

Edward Bond – Setembro, Jon Fosse, David Hare, Antonio Tarantino, Anthony Neilson, Sarah Kane – Falta.

São alguns teatros possíveis...