Imaginem-se numa qualquer noite há alguns milhares de anos atrás, naquela noite precisamente em que pela primeira vez se pintaram os acontecimentos de uma caçada. – A emboscada, o animal morto, as armas da caça, a chegada a casa. Imaginem o fascínio de todos a olhar para os traços negros de carvão riscados na pedra. Pensem no que devem ter eles sonhado nessa noite.
Eles tinham aprendido a representar-se. A ver-se de fora.
Tal como Deus.
O teatro é aquilo que Deus nos deixa para fazer.
Fazer de nós.
Primeiro fizemo-lo falado e cantado e dançado.
Depois, escrito.
Realmente, é aqui que começa a nossa história.
No séc. V antes de cristo.
Ésquilo, o primeiro dos dramaturgos.
Depois, Sófocles – Rei Édipo, Eurípides. Aristófanes, das comédias.
Durante um século.
Depois tivemos as comédias romanas, as tragédias romanas não eram representadas. Aborreciam o público.
Depois, silêncio.
As constantes guerras e pestes da idade média não deixavam as pessoas pensarem nelas próprias.
Era Deus que mandava. O teatro era feito à margem da sociedade.
Mesmo assim sobreviveu.
E foi reconhecido. Pelo poder.
No séc xv, Maquiavel inaugura o teatro moderno. A Mandrágora é a vitória da inteligência sobre a credulidade, a burrice, o caduco.
Desse gesto de que muitos já partilhavam, nasce uma nova maneira de fazer teatro.
A intriga, a surpresa, a maquinação, o artifício, começam a fazer parte do vocabulário do teatro. O engano começa a ser admitido, glorificado.
O teatro passa a ser manifestação da liberdade do homem.
Ter a liberdade de ver o mundo tal como ele é.
Em Portugal é Gil Vicente que fixa primeiro esse mundo da farsa.
Teatro da Corte. Teatro do poder.
Cervantes, Calderon de la Barca.
Depois, Shakespeare. Rei Lear.
Em Itália, Goldoni.
O teatro como mercadoria. Burguesia.
Em França, Moliére, Pierre Corneille.
Teatro barroco. Teatro dentro do teatro.
Marionetas em Portugal.
Depois, vazio.
Até ao teatro naturalista de Ibsen, Tchékhov – Três Irmãs, Strindberg.
O teatro político de Odon Von Orvath – Histórias do Bosque de Viena.
O teatro épico e didáctico de Bertolt Brecht.
A segunda guerra-mundial.
A morte das ideologias.
Existencialismo – Jean- Paul Sartre, Albert Camus.
Depois, Samuel Beckett, Dias Felizes, a condição humana.
Harold Pinter, o teatro do medo.
George Devine funda em Inglaterra, o Royal Court Theatre.
Um teatro dedicado a dramaturgos.
Até aos dias de hoje:
Edward Bond – Setembro, Jon Fosse, David Hare, Antonio Tarantino, Anthony Neilson, Sarah Kane – Falta.
São alguns teatros possíveis...