Esta é uma das músicas mais divertidas do rock português. É do disco Se Cá Nevasse, dos Salada de Frutas. Corria o ano de 1981, e lembro-me que até se fez uma reportagem na RTP com o facto do disco ter sido gravado na Holanda, no mesmo estúdio em que os Police tinham gravado Zenyatta Mondatta um ano antes. A canção mais conhecida é a que dá nome ao disco, mas era esta aquela que mais gozo me dava ouvir. A letra é divertida e a maneira como está narrada, com as várias vozes aproxima-se muito daquilo que eu adoro ouvir na música: histórias. Este registo foi tirado directamente do disco e contou com a ajuda da Mirandina.
Esta é a verdadeira história de Rebalbino Pires.
O honestíssimo vadio ancorado nas Portas de Santo Antão, mas batendo a outras portas e respeitador de todos os santos.
Navegando de mulher para mulher. Das filhas mais do qu'as mães.
E crucificado pela justiça e pela opinião pública.
Como já tinha acontecido ao próprio nosso senhor.
Foi Rebalbino atleta que ganhou a maratona, com duas horas de avanço, tendo cortado a meta repimpado na Ramona. Foi caçado no gamanço.
Mentira. Pura mentira.
Se gamou os sapatos aos outros atletas foi para salvar o turismo de pé descalço, pá. Tudo o mais é boca, é bera, é falso. Nunca apareceu às faces da terra. É que nem à face “A” nem à Face “B”.
Gajo tão sério e pachola (amigo dos putos e delas...) ele era o chefe de fila, para muito puto reguila mestre melhor não havia, condutor de escola, de sobrinhos, ensinou-lhes os caminhos, que vão às casas das tias.
Mentira, outra mentira.
O quê, Rebalbino Pires cavalheiro impec e aprumado desmoralizou a moral aos costumes a que se tinha acostumado. Quando andou no contrabando tinha um bando contratado. Contra fé e contra guarda contra cima e contrabaixo. Contra-regra e contramão até que vem uma farda que o enfarda na prisão.
Mentira, bruta injustiça.
Tudo contrabando. Nada a favor de bando. Sempre foi um sereno de um cidadão, cumpridor de leis e de mandamentos que mandassem inclusivé de portarias municipais e de outras portarias que tais. Impostos em dia, facultativos, à noite, eh...! ah...!
Mas numa noite de porrada na tasca do Manelado é que perdeu a cabeça ao mandar a cabeçada num artolas encartado que foi parar a travessa. Levou só quatro pontos porque era a Travessa do Cosido.
Mas é tudo mentira, pura invenção.
Vejam só o certificado do seu registo criminal, passado por ele sem ajudas de ninguém. Impecável! Bestiali!
Lá vem: o seu único crime foi falsificar o registo criminali.
Mas olha aí. Mais que permita a força humana... tinha oitenta e uma amantes, umas vinte por semana, sem vozes reclamantes. Tinha oitenta e uma amantes, uma delas ciumenta. Foi essa uma das oitenta que soprou o pêlo da venta. Sacou a faca da liga.
E ele nem deu aos calcantes. Que nunca foi homem de brigas.
Mentira, outra mentira. Rebalbino Pires, honrado português de lei, não anda à mão desarmante, nunca fugiu à polícia, nem sequer foge da chuva. Nem para lavar a reputação, que exige reparação.
Depois de tanta patranha.
Tanta mentira malvada.
Agora é que são elas.
E aqui está esta campanha devidamente orquestrada.
É assim mesmo!
E agora rapazes, para a frente.
Para a frente, o quê?
Para a frente com o resto, pá, em honra do gajo, pá.
OOOOOH IN MY NIGHT IN SOLIDÃO.
WELCOME TO MY NIGHT IN SOLIDÃO.
Rebalbino, senhores ouvintes estivemos a ouvir a história de Rebalbino Pires, um exclusivo das frutas WELCOME.
Obrigado à Mirandina pelas correcções.