Em Janeiro de 2010.
Um mundo submerso que se deixa ver por entre duas frestas, um universo de homens e mulheres belos e feios à vez, todos iguais, mas que se distinguem uns dos outros pela cor da pele, religião, cultura, proveniência, orientação sexual ou ideológica. É esta a casa do nosso pensamento. O texto que trabalhamos é de Gary Owen, escritor galês, premiado várias vezes, no original é Drowned World, nós chamamos-lhe Mundo Submerso.
São quatro os actores/personagens que nos contam a história de amor e perseguição, num mundo dividido que procuram normalizar, que procuram tornar mais humano. No fim, dois mortos no fundo do mar e dois vivos a fugir da inundação. A água ameaça o mundo, a água, fonte de vida, semeia a morte numa sociedade que não sabe viver com os seus habitantes. Uma sociedade que se contorce em agonia, à procura de resquícios de beleza para os extinguir. Eventualmente, a beleza contamina com a sua radiação inexplicável e quem persegue torna-se perseguido. E é assim que viramos a história para nos olharmos ao espelho. Para usarmos aquele obejcto que já ninguém usa neste mundo: o espelho. Porque nos lembra de nós próprios e de como somos desastrados e feios e falsos. Todos nós.
A construção da nossa imaginação passa por estas três salas, ali, às Amoreiras, numa antiga Escola primária. Os quadros de ardósia ainda lá estão com uns restos de paus de giz que usamos para escrever palavras de ordem ou para fazer declarações de amor cifradas. Numa das salas jaz a maqueta que fizemos do nosso cenário mental que será a única coisa que não restará deste novo espaço da Guilherme Cossoul. Quando começarem as obras para construção do auditório, o sítio onde agora ensaiamos desaparecerá. Não foi por isso que fizemos a maqueta, mas que calhou bem, lá isso calhou.
São tempos de felicidade pela dedicação que todos estamos a pôr nesta causa. Depois das tristezas, das depressões, das desilusões, parvoíces, traições e imaturidades, encontrei finalmente uma casa, colectiva, onde, com os outros, e sem ordenados, posso imaginar mundos diferentes. Este é submerso, o próximo não sei como será. 2010 aproxima-se a passos largos.
Bom Natal.